domingo, 28 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1

(Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1, de David Yates)



Harry Potter (e aqui me refiro a todos os 7 filmes) não é exatamente aquilo que os críticos cultos e que entendem de cinema chamariam de "um bom filme". Nem os livros, "bons livros". E, como todo mundo sabe, a grande massa humana do universo na maioria das vezes não dá a mínima bola pros críticos cultos e continua gerando pra indústria cinematográfica bilhões de dólares. O que é simplesmente GENIAL.
A história criada por Rowling há mais de dez anos conquistou toda uma geração de novos leitores que, com seus 11 e 12 anos (ou 20, ou 30...) descobriram um mundo novo, cheio de magia, de aventura e de personagens como eles. Ou melhor, como eu. E o que realmente importa aqui não é criticar a qualidade do produto em termos técnicos e de linguagem cinematográfica, mas sim admitir que, poxa, uma história que teve tanto significado na minha pré-adolescência e me fez sentir tanta coisa não pode ser analisada como qualquer outra. Ela está num patamar superior, o patamar da emoção, da minha memória pessoal. Simplesmente por existir ela já se torna melhor que as outras. "It's only natural".

A tarefa de levar pra tela de cinema os livros mágicos de J.K.Rowling passou pelas mãos de vários diretores ao longo dessa década. Chris Columbus, Alfonso Cuarón, Mike Newell e, por fim, David Yates.
Columbus dirigiu os filmes que, até então, vinham sendo os meus favoritos da série. A Pedra Filosofal e A Câmara Secreta, os primeiros, os mais infantis, os mais fiéis, enfim... foi o início - e, convenhamos, foi um ótimo início. Com O Prisioneiro de Azkaban a história já começou a mudar um pouco de cara. No livro começavam a surgir subtramas um pouco mais complexas. Esse terceiro, meu livro favorito, diga-se de passagem, foi o que eu tive mais expectativa pra ver no cinema. E todo mundo sabe que quando a gente cria muuuita expectativa pra alguma coisa o resultado nunca é suficientemente bom. Hoje, analisando com olhos de quem vê mais do que sente, é certo que o trabalho de Cuarón foi diferente, original e muito bem feito. A partir de O Cálice de Fogo é que começou a perder a graça. O filme demorou muito pra sair, o quinto livro demorou muito pra sair, e quando chegaram até nós eu já não tinha toda aquela vontade. Quer dizer, a gente cresce. Com A Ordem da Fênix e com O Enigma do Príncipe, a mesma situação. A história começava a ficar muito mais densa e impossível de ser comprimida em duas horas e meia de filme. Muita informação, muito detalhe, muita história que ainda não tinha sendo contada.  E, por isso, muita coisa ficou de fora. E o que ficou de dentro ficou embolado, atropelado, num ritmo ruim.
Por isso que, quando fiquei sabendo do lançamento da primeira parte de As Relíquias da Morte eu já não esperava muita coisa. E aqui a recíproca é verdadeira: quando a gente não cria quase nenhuma expectativa, tudo fica um pouco melhor. E a primeira parte do último filme ficou muito, mas muito melhor.
Tudo acontece no tempo certo. Os planos gerais, com algumas exceções, são lindos. As luzes e as cores são sombrias na medida certa. Um roteirista com um pouco mais de "tempo-espaço" pra adaptar uma história, cria em cima dela - e Steve Kloves criou coisas lindas.
O sétimo filme parece misturar todos os ingredientes na medida certa: o humor, o medo, o suspense, a diversão, o romance... tudo está ali, e está na quantidade e no lugar certo. Às vezes, algumas licenças criativas que dão vida aos meus momentos favoritos do filme - como a cena da dança, ou a sequência do conto dos Três Irmãos. Outras vezes, simplesmente a adaptação "litetal" das palavras de Rowling, como a cena do elfo Dobby, na praia.

O que eu mais adoro é esse incrível poder que as histórias carregam, a capacidade de te fazer sentir e se emocionar como se estivesse dentro daquele universo. É clichê, mas né. É lindo do mesmo jeito. E ultimamente tem sido tão difícil ver algo que realmente te emocione, que te faça sorrir naturalmente, que aperte a garganta ou dê o nó na boca do estômago, que quando um filme faz isso ele já merece elogios. Te proporcionar tudo isso e, ainda, te fazer senitr como se você tivesse 12 anos e quisesse mais do que tudo viver dentro daquele universo, sério: não existe, em todo o mundo, estética ou linguagem que possa criticar racionalmente isso.