domingo, 28 de fevereiro de 2010

Te Amarei Para Sempre

(The Time Traveler's Wife, de Robert Schwentke)


Hoje foi a segunda vez que assisti ao filme. A primeira vez eu vi no cinema - uma das melhores coisas que eu fiz em 2009. Foi um daqueles que eu vi o pôster, li o título (em inglês, não a tradução escrota comercial) e já era o "filme do ano", aquele que eu precisava ir ver no cinema. Criei toda uma expectativa gigante ao redor do que seria e, como toda regra tem uma exceção, não me decepcionei. Pelo contrário, consegui gostar mais do que eu esperava. Gostei tanto, tanto, que me dei o livro de Natal [sim, o filme é baseado na obra homônima de Audrey Niffenegger decentemente traduzida como "A Mulher do Viajante no Tempo"]. Esse foi, aliás, o único livro que eu li antes do vestibular - fora as leituras obrigatórias. Só pra ter uma noção do quanto eu me encantei com o filme. Sendo assim, vou começar por ele.

É a história de um homem, Henry DeTamble (interpretado pelo gostoso talentoso Eric Bana, o irmão heterossexual em "Tróia"), portador de uma rara doença genética que o faz viajar no tempo independentemente de sua vontade. A única coisa constante em sua vida, por assim dizer, é essa garota, Clare Abshire (a Rachael McAdams topa-todos-filmes-lecais), sua esposa, quem fica esperando por ele. "Te Amarei Para Sempre", bem como a tradução deixa implícito, é um romance BEM romântico, mas que, ao mesmo tempo, foge do lugar comum e das mesmas histórias batidas de sempre, surpreendendo e emocionando. Os personagens estão lindos e, o mais importante, estão ótimos. Cada um tem o seu espaço, por menor que seja em questão do tempo, transformando cada cena do filme em um pedaço memorável e indispensável pro conjunto. Não daria pra tirar nenhum momento, não daria pra mudar ninguém que simplesmente destruiria com o equilíbrio-mór da produção. A fotografia, nem se fala. Tem vezes que dá vontade de voar pra dentro do quintal da Clare, e ficar ali, deitada naquele campo imenso. A garota que escolheram para fazer o papel dela jovem é incrível. Ela não é só uma garota fofinha, a pivete vai além, nos mostrando uma Clare cheia de personalidade e inteligência. Perfeita. A trilha sonora também está ótima - ok, acho que a única coisa do filme que não ficou perfeita, mas quase lá. Achei ela tão comunzinha. - O roteiro foi impecavelmente escrito por um cara chamado Bruce Joel Rubin, o qual, vim a descobrir no DeusGoogle, foi o responsável também pelo roteiro de "Ghost".


Agora, falando sobre roteiros, livros e adaptações. Cada vez eu tenho mais certeza que não tem quase nada mais perigoso pra se fazer no cinema do que adaptar um best-seller. E, até onde me consta, "A Mulher do Viajante no Tempo" já era mais-ou-menos-isso nos EUA mesmo antes do filme. É aí que entra o talento de alguns e - pra tristeza de alguns fãs de crepúsculocofcof - a idiotice de outros. Pra nossa sorte, Bruce Joel Rubin se encaixa na categoria dos talentosos. O livro de Audrey Niffenegger é quase magnífico (esse quase eu explico depois). E ele tem umas 450 páginas. Mais: não são 450 páginas de descrições e/ou explicações e filosofias. Ele é todo história, todo acontecimentos. Acho que nem se fizessem uma temporada inteira seria possível mantê-lo completo - e, provavelmente, isso seria tedioso. O caminho que Bruce Rubin escolheu foi o mais sábio e possível: ao invés de adaptar toda a história gigante da Niffenegger, ele pegou a essência do amor entre os dois, a ideia, alguns fragmentos dos coadjuvantes e montou outra história - believe me - completamente diferente. Sim, claro, os fatos importantes estão todos lá. Quer dizer, os fatos importantes pro filme estão todos lá. Sempre vai ter um fã xiita (com a licença de uso da expressão do Ghuyer) pra colocar defeito, pra dizer que a cicatriz do Harry Potter ficou muito pra esquerda, mas o que realmente importa é que ganhamos um filme maravilhoso em todos os aspectos.

Duvido que alguém já tenha lido o livro e ainda não tenha assistido ao filme, mas, se esse for o caso, esteja ciente de que todo o universo imaginado por você durante a leitura, todos os bilhões de momentos e de conversas e de beijos e de transas - é, o livro é mais caliente nesse aspecto -, enfim, tudo o que você imaginou durante os sete dias em que lia o romance NÃO VÃO ESTAR LÁ. O filme não é uma gravação do livro, graçasadeus. Eles são diferentes. Muito diferentes. Eles são tão diferentes que, ouso dizer, nem os personagens são os mesmos. Sim, você leu certo. A Clare Abshire do livro não é, definitivamente, a mesma interpretada pela Rachael McAdams. E sabe o que é mais divertido nisso tudo? Eu gostei bem mais da Clare do Bruce Rubin. Muito mais.
Agora, se você se encaixa na categoria das pessoas que já viram o filme e querem ler o livro - mais provável - ficam as mesmas dicas. São histórias diferentes, com personalidades diferentes. A obra de Niffenegger é maravilhosa. Conhecemos através dela a essência de todos aqueles coadjuvantes do filme. Acompanhamos a infância e a adolescência de Henry e todo o amadurecimento do personagem, descobrindo como lidar com sua peculiaridade. Do mesmo modo, somos levados para dentro do núcleo familiar desestabilizado dos DeTamble, com todos os conflitos a la TheOC. Conexões entre alguns personagens, que não foram levadas até o filme, são reveladas aos poucos para o leitor, criando um clima bem tenso. Como eu disse, é outra história, com uma essência parecida. Ah, e a narração do livro é espetacular. Não vou contar mais detalhes pra não estragar a surpresinha, só vou dizer que ela não é exatamente em terceira nem em primeira pessoa.
Lá em cima eu comentei que ele era quase magnífico. Quase porque eu tenho os meus probleminhas com os finais. Esse, então, foi horrível. Fico mil vezes com o final do Bruce. Fico, mil vezes, com a Clare e com o Henry do Bruce.

Desde a sinopse do livro é traçado um paralelo entre Clare e a Penélope, da mitologia grega, a qual espera o retorno de Ulisses na Odisseia. Pode ser falta de romantismo o que me cerca - ou talvez seja o excesso dele pra Sra. Niffenegger -   mas não importa o tamanho da paixão ou a força do amor, nada me faz acreditar que alguém esteja fadado a passar a vida costurando uma colcha durante o dia e descosturando-a à noite, com o único propósito de esperar pelo amado. É um sacrifício lindo e ultra-romântico em nome do amor, esperar a vida inteira por Ulisses, mas eu prefiro ficar com a ideia de que, quando o Ulisses realmente amar Penélope e, principalmente, quando ele for honrado e corajoso o suficiente para ser digno dessa reciprocidade, ele não irá embora. Ele vai escolher ficar com ela. E, se não for possível, se ele realmente tiver de partir, então ele vai desejar sinceramente que ela continue vivendo. Vai desejar que ela não espere eternamente. Porque, eu acho, que quando a gente ama alguém, a gente quer essa pessoa feliz. E, mesmo que Penélope ame-o para sempre, não dá pra ser feliz sentada na sala de estar costurando uma toalha por tanto tempo assim.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Guerra ao Terror

(The Hurt Locker, de Kathryn Bigelow)

Fato: não me emocionou. Isso já é motivo suficiente pra que eu destaque todos os pontos negativos de um filme e deixe de lado as coisinhas boas. Digamos que, não é só o fato de não ter emocionado, exatamente. É que não ficou martelando na minha cabeça durante dias. Não vai ficar guardado na minha memória por décadas - ou por meses, whatever. Eu li por aí que o filme é muito bem feito, e a fotografia é ótima, e a montagem é ótima e a direção é ótima e firme. Ok. O filme deve ter todos esses atributos positivos, mas, é isso. É um ótimo filme, muito bem feito, como tem tantos outros por aí. Tá. Chega de chinelear, vamos aos detalhes filosóficos.
Primeiro, "Guerra ao Terror", o título e duas observações. Como aqueles mais entendidos de inglês já repararam, mais uma vez a tradução ---. Infelizmente, gastei toda minha habilidade de xingar traduções que mudam o sentido do filme com "Up In the Air" (e o seu glorioso "Amor Sem Escalas" ¬¬) portanto vou simplesmente ignorar esse fato. Então. "The Hurt Locker" centra sua história nesse grupo de soldados (?) no Iraque cuja função é desarmar bombas. O estranho disso tudo é que ele é um filme de guerra. Não do mesmo jeito que aquele do soldado ryan, o do rambo ou "Platoon" (de Oliver Stone, sobre a guerra do Vietnã). "Guerra ao Terror" - e o título em português dá espaço pra filosofar sobre isso, azarodevcs,leitores -, é um filme de guerra à la sec XXI. Sem... ação. Sem contato. É uma guerra de homens contra bombas, de homens com bombas, de robôs e de (mais) bombas. Não tem os tanques avançando em cima dos soldadinhos, não tem guerreiros camuflados entre as folhagens. E o filme retrata isso muito bem. A tensão silenciosa do início ao fim, o risco iminente de morte - não pela metralhadora de um soldado inimigo, mas pelas próprias mãos, ao cortar o fio errado ao desarmar um explosivo -, a paranóia constante em relação a tudo e todos. A "Guerra ao Terror" que a gente vê ali é, parafraseando o Ghuyer, um reality show da guerra no Iraque, tamanha é a verossimilhança do que aparece em tela.
Também acho válido mencionar minha ótima percepção/comparação em relação aos temas que "Guerra ao Terror" e "Avatar" tratam. Assim, é o tipo de coisa que a gente estuda na aula de Atualidades. É o que sai no jornal. Quem assiste BBC (inútil) sabe que o tempo todo passa notícias sobre os soldados no O. Médio. O tempo TODO. Quem tá um pouquinho ligado, ficou sabendo da Conferência do Clima, o aquecimento global, o derretimento do permafrost, o fim do mundo. E aí a gente tem que os dois filmes mais cotados pra ganhar o Oscar de 2010 não são sobre um assassino com penteado feio ou sobre um garoto indiano e o destino. São sobre temas, digamos assim, mais globais. Aliás, são sobre temas (a ameaça ao meio ambiente e os conflitos no oriente médio) nos quais os EUA não tem a cara muito limpa e que atingem os norte-americanos e a entidade USA muito, muito diretamente.
...
Voltando ao "The Hurt Locker". Três comentários. A primeira cena do filme é PER-FEI-TA. É super tensa, e aquele lance do robô, e a agonia, e -porra- A TOMADA DA AREIA! Tipo: foda. Vale a pena ver o filme, nem que sejá só por essa cena.
Depois, a frase que inicia o filme. Não poderia ser melhor escolhida. "The rush of battle is often a potent and lethal addiction, for war is a drug" (O calor da batalha é frequentemente um vício
potente e letal, pois a guerra é uma droga). Essa frase simplesmente é o filme - ou, pelo menos, a alma dele, se filmes tivessem alma o_o'. E aí tem o final. *-* Pra quem não viu, um pouco de cuidado aqui, ok? Tipo, vão embora, não leiam. O final é a ilustração perfeita daquilo que o filme realmente é. Daquilo que a guerra realmente é. Como nosso Hurt Locker disse: com certa idade só sobram uma ou duas coisas que realmente se ama. Às vezes é só uma. Fica então aquele choque, aquela porrada no estômago depois da última cena. Digamos que, se alguma coisa de "Guerra ao Terror" ficar guardada na minha cabeçona por alguns meses - ou algumas décadas - vai ser o final.

"The Hurt Locker" foi indicado ao Oscar em: Melhor Filme, Melhor Diretor (Kathryn Bigelow), Melhor Ator (Jeremy Renner), Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora, Mixagem de Som e Edição de Som.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Bastardos Inglórios

(Inglorious Basterds, de Quentin Tarantino)

Para ler a crítica do Pedro clique aqui.

Quem conhece um pouquinho do Tarantino e ouve dizer que ele vai lançar um filme "sobre a 2ª Guerra Mundial" já sabe que não vai ser nada parecido com qualquer outro filme já feito sobre esse tema. Ele é, provavelmente, o cara mais criativo e original que transita pelos tapetes vermelhos hoje em dia, e "Bastardos Inglórios" é exatamente o reflexo dessa mistura tão... excêntrica entre Quentin Tarantino e Hollywood.
Para aqueles que não estão habituados ao nome do diretor, ele é a cabeçona por trás do famosinho-cultuado-pseudo-intelectual "Pulp Fiction", com a Uma Thurman, o John Travolta e o Samuel L. Jackson. Trazendo o nome dele mais pro presente, Tarantino é também diretor de "Kill Bill (Vol. 1 e 2)" também com a Uma Thurman. Diferentemente do que acontece com outros diretores, como o Steven Sipelberg, por exemplo, que têm suas produções sempre ligadas ao nome de Hollywood e são em grande parte consagradas como os mega filmes dessa indústria, o Tarantino é o cara cujo primeiro filme se passa dentro de um depósito (?), onde um grupo de homens de terno se reúne após um assalto a banco que não deu bem certo. E então comparamos esse "Cães de Aluguel" com o último "Bastardos Inglórios" e da pra ver quanta coisa mudou. Se antes tínhamos um cara muito criativo - e, vamlá, completamente perturbado, louco e psicótico - dirigindo um filme de baixo orçamento, com atores pouco conhecidos e cenários quase inexistentes, o Quentin Tarantino de "Bastardos Inglórios" é tão grandioso quanto Hollywood (e talvez até um pouquinho mais). O Tarantino de agora dirige um dos nossos melhores atores vivos (o Brad Pitt, sim u.u) em uma produção linda e gigante e ultra-gloriosa. Ele mostrou que, não só continua sendo o diretor dos diálogos geniais, do ultra-violence mais divertido e bem feito ever, o que faz milagres com um orçamento de 50 dólares, como agora é também o diretor que sabe pegar o que Hollywood tem a oferecer de melhor - o dinheirocofcof - e dirigir um baita filme, com todos aqueles cenários magníficos, e todas as cores, e todas as roupas, e todos os efeitos, e a fotografia, e cada mínimo detalhes, e os atores e e... tudo, enfim, tudo continua sendo perfeito. E, óbvio, tudo continua com a cara do Tarantino.
Quentin Tarantino paz-e-amor. oi?

"Bastardos Inglórios" é isso. É o diretor meio trash e meio louco que ficou gigante e fez uma ultra-blaster-produção sem perder nem por um segundo o estilo sanguinário e negro do início. Deixando de lado toda a magnitude de "Inglorious", vale citar uma das características do Tarantino tão marcantes quanto o sangue e os "fucks": a música. Como não poderia deixar de ser, além do impecável. A trilha sonora é mais do que perfeita. Desde a primeira cena, quando temos uma casinha no meio do campo e o iniciozinho de "Pour Elise" tocando e te deixando nervoso com aquela sensação de "aideus,oqueseráquevaiaconteceragora?" até a última - que eu não vou contar pra não estragar a surpresa - os sons são perfeitos e estão realmente ali. São tão marcantes e perceptíveis quanto cada cena, cada personagem.
O que aconteceu em algumas cenas - e certo que foi só impressão minha e tanto faz - foi que os diálogos ficaram meio... cansativos. A grande parte do filme entre um momento de tensão e outro acaba ficando meio maçante, seiláporque. Tem uma ou outra piada engraçada, situações divertidas e inusitadas, mas nada que realmente prenda a atenção de quem assiste. A cena do jogo de cartas, por exemplo. Ela é tão comprida que chega a cansar, dá aquela vontade de "puxa, termina isso logo duma vez que eu quero o filme". Mas quando chega no final e os créditos sobem, essa sensação desaparece, e toda a atenção está voltada pro filme como um todo e pra glória-mór.
Nesse mesmo blog lá de cima eu li um outro comentário sobre "Bastardos Inglórios" - que foi indicado ao Oscar em 8 categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator Coadjuvante (Christoph Waltz), Melhor Fotografia, Melhor Edição/Montagem, Melhor Edição de Som, Mixagem de Som. O comentário era "Hollywood ainda não está preparada para Tarantino". E é verdade. Ele disputa, por exemplo, Melhor Filme ao lado de "Guerra ao Terror" - que é ótimo, mas que é tão comum, e guerra, e soldados, e silêncio - que fica pequenininho ao lado de "Bastardos", mas que, entretanto, está sendo muito mais aclamado e apostado que o filme do Tarantino. Não só Hollywood não está pronta pro cabeçudo-louco como muita gente aqui de fora. Minha mãe, por exemplo, achou o filme chato e sem sentido. E acho que é isso que acaba acontecendo com muita gente ainda. "Bastardos Inglórios" corre o risco de virar, do ponto de vista de várias pessoas, um filme chato e sem sentido, com personagens que falam três línguas diferentes, que não se entende nada, e que o Brad Pitt mata nazistas. É claro, pra esses casos, sempre teremos "Invictus" e, por que não?, "Avatar". Faz parte. Ter milhões de filmes diferentes, cada um em um estilo, cada um com sua originalidade - e alguns sem, todas essas possibilidades fazem parte e são completamente séc. XXI. E aí sempre tem um cretino pra perguntar qual dos filmes é o seu preferido. Como se desse pra escolher entre "Avatar", "Bastardos Inglórios" e "Up!" como quem escolhe enntre três sabores de pizza. Não dá. Pelo menos, não pra mim. Esse tipo de coisa difícil é bom deixar pra Hollywood fazer.

A Fita Branca

(Das Weisse Band, de Michael Haneke)

Com todo esse lance de cinema, arte, cult, etc. decidi que já era mais do que o momento de expandir meus horizontes críticos em relação aos filmes que eu assisto u.u'. É claro que nem todos os filmes são perfeitos e maravilhos e uou como, por exemplo, "Avatar", mas o fato é que cada produção é única e deve ser apreciada e pensada de um jeito diferente. Com isso em mente - e inaugurando essa nova fase, hehe - decidi falar um pouco sobre "A Fita Branca", indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Fotografia.
Desde o início do filme - o ínicio mesmo, quando aparece o logotipo da distribuidora "Imovision" - a gente já fica sabendo que ele vai ser um tanto quanto quieto - e todo mundo que me conhece um pouquinho sabe dos meus probleminhas com filmes quietos e lentos e parados e cults-demais. Pois bem, "A Fita Branca" é tudo isso junto e bastante. E mesmo assim, o filme é bom. Acho que vale dizer que o filme é muito bom. Obviamente, não é nenhum "Transformers" mas, do seu jeito, é um ótimo filme.
A sinopse é mais ou menos assim: uma aldeia no interior da Alemanha por volta de 1913 (logo antes da 1ª Guerra, para aqueles que nãosabemelogonãomerecemviver). Um grupo de crianças e suas famílias. O professor do coral, narrando. Então, eventos estranhos começam a acontecer envolvendo a vida dos habitantes dessa comunidade rural alemã, motivo que traz até o espectador detalhes dos acontecimentos íntimos de cada um desses núcleos familiares. Temos os mentores de cada familia (o médico, o pastor...) e seus comportamentos expostos na tela: de um lado, a rigidez, a moral, a "fita branca" pregada e cobrada incessantemente dos filhos e filhas; do outro, o que existe por trás de uma máscara de hipocrisia e falsos argumentos.
O mais interessante e admirável é como todas essas relações são transmitidas ao público sem o menor esforço (e sem a aparente intenção do narrador de fazê-lo). As imagens e as próprias falas do personagens dão conta de fazer o espectador sair da sessão tendo entendido tudo aquilo que o filme, de fato, tem a intenção de mostrar. A presença de um narrador, se fosse usada de um jeito amador (saca só, eu falando de amadorismo haha) ou, pior ainda, se fosse usada com a ideia de um público incapacitado para compreender o enredo, teria sido ridícula: teríamos um personagem discursando e filosofando sobre os assuntos. Thankgod, não é isso que acontece em "A Fita Branca". O personagem em contato direto com o pessoal daqui, serve apenas para nos deixar a par de fatos relevantes que não "aparecem" no filme, fatos anteriores ao início da narrativa ou que quebrariam a sequencia lógica de acontecimentos. Esse mesmo personagem, contudo, quando aparece em cena, é o que mais se aproxima da "consciência" do filme. É ele que argumenta e planta na cabeça de quem está assistindo a dúvida que fica nos rodeando mesmo após sairmos da sala de cinema.
Tecnicamente (e como eu não entendo lhufas de coisas técnicas) a falta de uma trilha sonora deve ser compreendida ao contrário. Quer dizer: a trilha sonora do filmé é o silêncio. O "nada", a ausência de música faz parte de toda a produção. Não é aquele silêncio de "ohfuck, alguém esqueceu de fazer um soundtrack", pelo contrário, é o silêncio proposital, que incomoda mesmo, que chama a atenção pra cada ruído, que angustia. Esse vazio sonoro faz parte de uma das sensações mais marcantes de "A Fita Branca", o choque, a pontada nos sentidos humanos, a provocação que te faz olhar com cara de nojo para a tela, que torna alguns momentos insuportáveis. Primordialmente, entretanto, o choque de "A Fita Branca" vem na medida exata: ele é forte o suficiente para que não seja esquecível, mas não é tão exagerado que estrague o filme ou que cause um asco tão grande no espectador a ponto dele desgostar do que vê (como acontece, por exemplo, no polêmico "Anticristo" de Lars Von Trier). Não vai ser surpresa e, confesso, eu não vou achar ruim se ganhar o Oscar de Filme Estrangeiro (embora eu não tenha moral alguma pra falar isso, já que não vi nenhum outro filme que está concorrendo).

Agora, tirando um momento pra Lucy filosofar.
Primeiro, eu queria falar sobre esse lance de um filme em preto-e-branco sendo indicado como Melhor Fotografia. Fico me perguntando um pouquinho sobre tudo isso. Será que no meio de tanta "tecnologia" aliada à produção de filmes (vide Avatar), as técnicas cada vez mais modernas de filmagens, efeitos especiais, captar da paisagem todas seus detalhes, nas mínimas cores, será que o excesso de tudo isso não leva o ser humano à buscar pela beleza no primordial? Na raiz? No que é limpo, claro, básico? Será que quando todas as mulheres andarem maquiadas ao extremo, com sombras, brilhos e pinturas coloridas por toda a face, o belo voltará a ser um rosto limpo? Sem desenho algum? Engraçado imaginar que, quanto mais avançamos em direção ao novo, ao científico, ao virtual, mais buscamos nos agarrar àquilo que é real, concreto, básico, enfim, black&white. Talvez o homem quando inundado por todos os lados com cores demais, efeitos demais, detalhes demais, seja acometido por essa necessidade de contemplar durante quase três horas a antítese, aquilo que houver de menos rebuscado possível como, por exemplo, um filme sem nenhum efeito especial, sem cores, sem detalhes, sem seres bioluminescentes planando ao redor de humanóides coloridos em 376 tons diferentes de azul. E é magnifíco como essas duas produções tão diferentes encontram espaço do mesmo jeito, lado a lado.

Em segundo lugar, citando o GuiaHagah para concluir: ["A Fita Branca" é] um ensaio sobre o surgimento do terrorismo - no caso, da sociedade que depois abraçaria o nazismo de Hitler. Confesso que me perguntei bastante se deveria ou não incluir essa frase aqui e achei que o melhor seria deixá-la. Eu a li antes mesmo de ir ver o filme, e confesso que só a compreendi plenamente quando voltei da sessão e peguei o jornal novamente.

Fica que é um desses filmes que a) quem é metido a cult; b) quem tá nas expectativas pro Oscar; c) quem curte fumar umas e ficar filosofando; enfim, qualquer um que tenha a mente mais aberta para além de robôs gigantes e vampiros homossexuais deve assistir, pensar e apreciar. (Nem que seja só pelo prazer de entender a origem do título. hehe. fiquem na curiosidade).

;)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Up! - Altas Aventuras

(Up, de Pete Docter)
Do mesmo diretor que fez o lindinho "Monstros S.A.", "Up!" surpreende qualquer um que tenha ido ver o filme sem indicações ou demais comentários anteriores. O fato de ser uma animação espanta muitas pessoas da sala de cinema (eu fui uma dessas,confesso) que preferem assistir na telona os grandes sucessos de bilheteria, filmes de ação ou qualquer outra coisa que não um "desenho animado". Acontece que "Altas Aventuras" não é simplesmente uma animação. É um filme de verdade. [hehe,naomediga] E é um filme lindo como poucos têm sido.
Alguns classificariam "Up" como dentro dessa linha de animações que tem sido feitas muito mais para os pais do que exatamente para as crianças. Como precursor (euacho) temos "Shrek", que além de ser um bom passatempo para espectadores de [quase] qualquer idade, ainda conta com piadinhas e referências que só aqueles mais vividos entendem. Embora o filme do ogro-verde-mais-sexye-e-desejado-do-mundo seja ótimo,  não acredito que pode ser posto lado a lado com "Up!". Se alguma comparação tivesse que ser feita, seria com "Wall-E" e toda a sensibilidade e emoção que ele transmite. No entanto, a comédia está mais presente em "Up", além do filme ser mais rapidinho do que o longa dos robozinhos.
Deixando as comparações de lado, vale elogiar os ótimos produtores da Disney/Pixar. Os desenhos e toda a produção são tão lindos quanto a história que se propõem a retratar. "Up" consegue ser colorido, moderno e belo, sem cair no exagero e sem ser "infantilizado". Tenho que confessar que a história e as imagens me cativaram tanto, que não prestei atenção nem por um segundo na trilha sonora. (Depois que descobri as 2 indicações ao Oscar envolvendo a musicalidade do filme, tratei de fazer o download, só pra concluir que o som realmente estava lá, deixando a história ainda mais completa e divertida).
Filosofando um pouco, "Up!" [além de emocionar qualquer pessoa que tenha sentimentos u.u] traz à tona, de um modo criativo e, por que não, imaginário - que envolve uma casa voadora, um paraíso ecológico misterioso e balões, - questões extremamente reais. "Up!" não é apenas uma animação engraçadinha sobre um velhinho e um garoto gordinho explorando a América do Sul. Ele é sobre saudade, sobre companheirismo, sobre amar alguém por toda a vida; é também sobre força, sobre arrependimento e, principalmente, "Up!" é um filme sobre recomeços. Todo mundo deveria assistir com o coração (pelo menos um pouquinho) aberto.

Up! - Altas Aventuras foi indicado ao Oscar em 5 categorias: Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Animação Longa-Metragem, Melhor Trilha Sonora Original Melhor Edição de Som.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Invictus

(de Clint Eastwood)
"Invictus" é um baita filme e, por isso, tem tudo aquilo que um filme tem que ter pra ser um um baita filme: tem uma história grandiosa, bons -e famosos- atores, um diretor prestigiado, ação, cenas ÓÓÓ, câmera lenta e diálogos que soem como imponentes. A história, à primeira vista, tem um quê de política; tem um Nelson Mandela recém eleito presidente, uma África do Sul pós-apartheid, um time de futebol (er... rugby) com apenas um jogador negro, e uma população cheia de contrastes e dilemas. Acontece que "Invictus" não é um filme sobre política. Na verdade, toda essa conjuntura serve apenas de pano de fundo para que o centro do filme seja... rugby. Nada contra os fãs dessa modalidade (de filme, não do esporte), mas é meio triste que uma ideia tão boa e, sim, inovadora tenha sido desperdiçada assim, como cenário para um jogo de futebol.
Mandela foi um homem admirável, um líder incontestável e seria muito, muito bom que algumas de suas lições fossem relembradas na atual situação "mundial" em que vivemos. Infelizmente, toda a sabedoria e todas as coisas importantes e relevantes que poderiam ter sido usadas foram esquecidas, passam quase imperceptíveis diante dos 7 minutos decisivos da partida de rugby. A parte "nova" e "diferente" dessa história se resume a uma das falas de François (interpretado por Matt Damon), quando ele diz algo como: "não entendo como um homem pode passar 30 anos em uma prisão e sair de lá pronto para perdoar quem o pôs lá dentro". E depois dessa rápida pausa para filosofia e pensamento, retornamos ao campo com os camisas verde e ouro para [mais] uma semi-final.
Aí vai vir um que diz "ah, mas essa era a proposta do filme... filme de esporte é assim". Ok. Filme de esporte é assim. E acho que eu sou assim também, com muita esperança e muitas apostas. Eu jamais iria ao cinema ver um filme de esporte. Mas aí tem o Morgan Freeman - o maravilhoso Morgan Freeman interpretando um maravilhoso ícone político - e tem o Clint Eastwood e toda a genialidade dele como diretor e, logo em seguida, tem todo o meu arrependimento de não ter visto "Menina de Ouro" no cinema - afinal de contas, "Menina de Ouro" era para ser um filme de BOX! BOX! Quando que a Lucy iria ao cinema ver um filme de ... BOX?! - e depois de duas horas o que resta é a imensa decepção, o entendimento do porquê "Invictus" não foi indicado a nenhum dos 2 principais Oscares e a tristeza de ver uma história que tinha tudo pra dar certo cair no clichê Sessão da Tarde de dramalhões-com-algum-tipo-de-esporte-com-time-ruim-que-surpreendem-a-todos-e-vencem-no-final. Ops.

"Invictus" foi indicado para o Oscar nas categorias: Melhor Ator (Morgan Freeman) e Melhor Ator Coadjuvante (Matt Damon).

obs: tá, vamlá gente, o filme não é tão ruim e desastroso que nem eu pintei. xD Ele até é bem bom/emocionante/divertido. Só não se deixem iludir. E, se possível, assistam em um daqueles dias que a entrada não é tããão cara.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Amor Sem Escalas

(Up In The Air, de Jason Reitman)
 Embora não seja exatamente "culpa do filme", acho digno extravasar logo no início meu total, completo e exagerado desgosto e ódio em relação ao título em português. QUEPORRAÉESSA??? Essa gente tem merda na cabeça???? sério. LA-MEN-TÁ-VEL. MUITO LAMENTÁVEL. tipoassim, poxa, não tem NADA a ver com o filme. "Up In The Air" definitivamente não é uma comédia romântica, coisa que fica subentendida no triste "Amor Sem Escalas". Segundo que... que... não, é só isso. Tanto faz, é triste igual. E, como já era de se esperar, as legendas não ficaram muito atrás, cheias de erros e defeitinhos e piadinhas mal traduzidas. Enfim, coisas que a gente perde inevitavelmente :/. Agora, ao filme.
Confesso que eu tive que vê-lo 2 vezes pra gostar bastantinho. Na primeira vez, achei um tanto quanto sem sentido,ok. Mas, olhando melhor e não tão criticamente, o filme é muito bom mesmo. O George Clooney tá ótimo, fazendo aquele garanhão-com-sorriso-sacana; a Anna Kendrick, a "estagiária" no caso, tá óóótima demaaaais, tipo, AtrizRevelação - ela é a amiga da Bella, em Lua Nova/Crepúsculo ♥, onde, aliás, insere as partes engraçadas ao filme -; e a Vera Farmiga também foi muito elogiada (embora eu nao tenha visto ela fazer nada de espetacular ;x me matem).
Não vou falar nada sobre o enredo dele aqui pra, enfim, deixar na curiosidade, maaaaas, como eu sou muito boazinha e como um amigo meu passou meses falando pra mim do trailer de "Up In The Air" anexo ele aqui embaixo pra quem tiver interesse.


Afinal, "Up In The Air" acaba sendo uma Comédia Dramática (se alguém necessita desesperadamente de um gênero), com piadas mascaradas entre uma e outra fala, referências divertidas e óóótimos diálogos. Num mar de tantos filmes "batidos", ele inova, é diferente e é... sutil. Digo, tem cenas lindaaaaaaas! Prestem atenção na cena da dança ok? E nas músicas! Muito, muito, muito boas e tão... óóouin! [me lembrou , bem pouquinho, a trilha sonora de Elizabethtown].
Apontei aqui o fato de o filme NÃO ser convencional como uma qualidade - mas, vemcá, isso na minha opinião, óbvio. Pra muita gente, isso acaba deixando o filme chato, sem sentido ou... "não achei tudo isso". Mas aí vai do gosto e da opinião de cada um. Do mesmo jeito que Juno (outro filme desse diretor), "Up In The Air" não cansa. Dá pra ver várias vezes, rever quando estiver passando na televisão - mesmo que não seja desde o início - e, mesmo assim, ele vai ser engraçado e (em alguns momentos) bonitinho. Vale ressaltar que não é uma comédia romântica, okaaay? Quem quer ver casaisinhos bonitinhos e briguinhas e criscris, tem aí no DVD "A Verdade Nua e Crua"- que eu não assisti, mas que todo mundo diz ser super engraçado.
No mais, ele foi indicado para o Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (George Clooney), Melhor Atriz Coadjuvante (Vera Farmiga) e Melhor Atriz Coadjuvante -sim!denovo! :O- (Anna Kendrick). A respeito disso, embora o filme seja muito bom, noway de ser o Melhor Filme (aliás, vou tentar explicar um dia o quanto "Filme" um filme pode ser, como uma escala, sim? Não tem a ver com qualidade nem com nada do tipo, mas digamos que "Up In The Air" é muito menos filme que, por exemplo, "Invictus"  - e,vejasó, é muito melhor também. Duvido que alguém tenha entendido isso. Só ignorem.). Também não me agrada a ideia de um George Clooney ganhando Melhor Ator, já que ele só estava fazendo o papel de... ahm... George Clooney (impecável e ótimo e muito engraçado, mas, sei lá, eu esperava que o ganhador tivesse feito algo mais ... desafiador. Algo do tipo "ah, eu tive que engordar 300 kilos em músculos, usar uma peruca e virar lobo" hehe). Por outro lado, a Anna baby Kendrick tava muito engraçada e surpreendente e MelhorAtrizCoadjuvante, maseiláminhagente. Falando do lance do "Roteiro Adaptado", poxa, fiquei triste, tá? Fiquei triste que, aparentemente, não existe espaço pra filmes bons com roteiros originais, que tudo que podia ter sido inventado já foi e que um dos filmes mais originais e "inovadores" desse Oscar é... ADAPTADO! poxa :/ desilusão. *Quentin Tarantino não serve de argumento porque... bem, é o Tarantino* No mais, "Up In The Air" vale muito a pena, ver E rever, quando possível.

Oscar 2010


Visto que a lista de indicados ao Oscar desse ano saiu há alguns dias e que a premiação vai ser dia 7 de Março, a ideia é que nos próximos posts do blog sejam analisados alguns indicados ao prêmio. As listinhas e as apostas eu vou deixar pros parceiros ali na direita ^^