sábado, 12 de junho de 2010

Ana Beatriz

de Clarissa Cardoso


Em homenagem ao dia dos namorados (óóóun), fikdik de um curta-metragem bem comediazinha romântica sorridente. Ele tem só 9 minutos e é todo cutie.


enjoy aqui ;)

sábado, 5 de junho de 2010

O Céu que Nos Protege

(The Sheltering Sky, de Bernardo Bertolucci)

Depois de levar um xixi coletivo de um dos professores da Faculdade de Cinema, avacalhando conosco, alunos, por não irmos o bastante ao cinema/não vermos filmes/sermos alienados e bobocas, acabei na quinta-feira de noite, feriado, em plena Sala da Redenção, no Campus Central da UFRGS, vendo um filme do italiano aí de cima. O pessoal que gosta um pouquinho mais de cinema que a maioria, tá ligado em quem ele é. Bertolucci fez "Os Sonhadores" (todo cult, com o lindinho do Louis Garrel) e, mais antigamente, o beeeem famoso "O Último Tango em Paris".
Então, "O Céu que Nos Protege" é um teto. hehe xD. É o drama desse casal que viaja pra deserto do Sahara, visita/mora em várias cidadelas miseráveis daquela região e lá enfrentam conflitos no casamento e de ordem pessoal.
Não, digamosassimcomtodasinceridadade, o filme mais instigante do mundo. Mas, por ser do Bertolucci, vale a pena expandir os horizontes e assistir. A história é meio demorada. Em compensação, fazem algumas coisas mucholocas com a fotografia. Algumas cenas, por exemplo, parecem que foram coloridas com celofane, marcando o contraste entre a noite, o deserto e todo o calor daquela região.
Enfim, takealook ;)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um Olhar do Paraíso

(The Lovely Bones, de Peter Jackson)



Visto que eu tô sempre avacalhando com as traduções mal feitas pro português, acho justo comentar quando eu considero alguma coisa decentemente adaptada. Adaptada porque "Um Olhar do Paraíso" não é tradução pra "Lovely Bones": é adaptação. Pra quem não sabe lhufas de inglês, a tradução literal seria algo como "Ossos Amáveis". Aí eu me pergunto: quem, em são consciência, faz um livro e coloca o nome de "Ossos Amáveis"? Ou aí tem alguma reflexão/referência muito mais além da minha capacidade de interpretação, ou a criatura que escreveu  isso (Alice Sebold) simplesmente ignorou o fato do quão feio realmente é. E mais uma salva de palmas pro ótimo "Um Olhar do Paraíso" depois de descobrir que a tradução do título do livro - o filme é adaptação de um livro - é a seguinte: Um Vida Interrompida e com direito a subtítulo! Memórias De Um Anjo Assassinado. Faz sentido, mas né, descobri que não gosto desses slogans apelativos demais.
A sinopse, como já pode meio que ser adivinhada pelos títulos, é sobre uma garotinha de 14 anos, Susie, que é assassinada e vai pro céu, de onde narra a história da sua família e todo o resto. Lembro, então, de uma amiga que assistiu o filme comigo e não gostou muito. Quando eu perguntei o porque, a primeira resposta dela foi: "ah, eu não gostei que a garotinha morre". o_o.    okay. é mais ou menos como dizer que não gostou de Titanic porque o barco afunda. Não, melhor. Como dizer que não gostou de Harry Potter porque ele é um bruxo. Pode se ter todos os motivos pra não gostar de Harry Potter, mas esse simplesmente não é um argumento válido. A garota morre. Eis o filme.
Eu devo ter falado com pelo menos 5 pessoas sobre "Um Olhar do Paraíso" e o que eu percebi é que, aparentemente, só eu gostei realmente do filme. Certo, não é o meu preferido. Não foi tão perfeito quanto eu achei que seria. Não me emocionou tanto como Avatar (oi?poisé). Mas é um filme lindinho e bem "adorável" - pelo menos o quanto uma história sobre uma garota morta por um serial killer permite ser.
Tente ver de outro ângulo: é a história de uma garota vivendo a primeira paixão, com toda uma vida pela frente, com sonhos, com família, com amores. A personagem de Saoirse Ronan é tão cativante. Ela fotografa, é toda sonhadora, toda romântica - confissão: me identifiquei litros com ela. antes da morte, claro. E aí, de repente, ela não é mais. Puf. Tão frágil. A vida dela acaba. E o filme começa.

Conhecemos melhor os outros personagens: o pai desesperado, a mãe fraca e perdida (não gostei de nenhum dos dois, fato), a avó extravagante (Susan Sarandon linda, assistam: "Tudo Acontece em Elizabethtown") e, minha preferida, a irmã de Susie. Lindsey, the sister, é a única ali que permanece sólida e - digamos assim - consciente perante todo o desastre que cai sobre a família quando Susie morre. A base da família, de repente, é uma garota de, oq?, 12 anos? (quase certeza que ela era a irmã mais nova). Ela é quem mantém o equilíbrio e as coisas nos eixos enquanto o pai enlouquece e a mãe "escapa". Ela é quem consegue ir adiante - antes mesmo da própria protagonista conseguir.
Deixando de lado as pessoinhas, temos o "Paraíso" de Peter Jackson. Todas as cenas lá são lindas. O Céu que ele ilustrou é bem o Céu de um 14-years-old-girl. Ele é colorido, ele é divertido, ele é cheio daquele mundo de fantasia e romance que ela não pôde viver. Confesso que achei ele mais lindo nas imagens que eu vi pré-filme (o que só serviu de lembrete pra que eu não visse mais nada de "Alice" by Tim Burton antes do lançamento), mas mesmo na tela grande ficou sensacional. Como todas as adaptações de livros que eu já vi (talvez, com exceção de "Ensaio Sobre a Cegueira, que eu tmb não li) ficaram algumas lacunas abertas. Alguns personagens que não tiveram o tempo suficiente pra si. E foi exatamente isso que faltou: tempo. A garota gótica (oi?) fica simplesmente jogada de lado o filme todo. Nas primeiras cenas, é feito todo um auê em cima da conexão dela com Susie que não é retomado nem explorado decentemente em momento algum. Resumem, muito mal, em duas frases uma explicação idiota e deu. Ponto pra Lista dos Contras aqui.
Já uma sacada que eu achei perfeita - e aí imagino ser algo bom do livro/história e não do filme em si - é a decisão que a Susie toma naquele momento de tensão. Ela escolhe beijar o garoto. Simplesmente porque pra ela, naquele momento, entre tentar se vingar do seu assassino e ficar com a paixão pré-adolescente, a segunda opção é mais importante. Garotas de 14 anos, sim. Outro ponto a ser mencionado, creio eu, é que não há explicações maiores a respeito do Paraíso e de como ele funciona. A história é centrada nos personagens, em como eles encaram os acontecimentos, Susie, principalmente. Logo, quem vai assistir com a expectativa de ter toda uma revelação e um novo ponto de vista sobre vida após a morte e essas coisas, é melhor mudar de ideia. A intenção não é dar um manual de instruções desse outro universo, e isso nem é ruim.
Pra terminar, tem o final. E, de novo, é um final 14 anos. Estando nós no séc. XXI, eu diria, inclusive, que é um final 8 anos à là "101 Dálmatas". Ponto negativo aqui: novamente, pro livro, creio eu. Juro que eu ficaria puta se, depois de ler um livro inteiro, terminasse daquele jeito. Tipo, que eu sou completamente a favor de adaptações livres pro cinema de obras literárias. "The Time Traveler's Wife" tem o final diferente - o do filme, aliás, mil vezes melhor. E, confesso que eu não ficaria nem um pouco triste se decidissem matar o Edward em "Amanhecer" pra que a Bella e o Jacob vivessem felizes pra sempre ♥. Já em "Um Olhar do Paraíso" encaramos durante duas horas um Stanley Tucci impecável na pele de um assassino nojento, ficamos com ódio e com asco dele, queremos que ele seja escalpelado, empalado, torturado, arrancadas as orelhas e as unhas e queimado vivo, quando o filme termina daquele jeito ridículo.

"Um Olhar do Paraíso" emociona - pelo menos, emocionou as duas senhoras sentadas ao meu lado que soluçavam de tanto chorar enquanto o filme se aproximava do fim - ainda mais quem já é mais experiente e tem filhos e essas coisas. Ou quem gosta de crianças, o que não é o meu caso (eu gosto de árvores, por isso, tanta emoção com "Avatar"). E é, apesar de todos os defeitos e das milhões de coisas que eu teria feito melhor se eu fosse a roteirista *prepotência mode on*, um filme lindo e ótimo e que deve ser visto no cinema - imagino que o Céu deve perder metade da emoção quando reduzido a 40 polegadas ou seja lá o tamanho que fazem as TVs hoje em dia -. Fica de reflexão, perante todo o desgosto com o final do filme, a análise das características da nossa sociedade e do que consideramos imperdoável. Já sei que é quase unânime o ódio em relação aos nazistas e que ninguém ficaria triste em ver milhões deles carbonizados numa tela gigante de cinema *lembre mental pra Lucy aqui: ótima ideia para um filme*. Imagino ser também unânime e da mesma proporção o ódio em relação a pedófilos. Não há espaço pra compaixão ou entendimento nesse quesito. Se fala em "justiça". E o final do filme não dá pros espectadores essa justiça. Daí a raiva que deveria ser sentido pelo assassino pode acabar sendo direcionada em parte pro filme. E pro Peter Jackson. E pra todo o resto.

Obs 1: eu sei que eu vou ser apedrejada por escrever isso mas, falando em Peter Jackson, "Um Olhar do Paraíso" é muito, muito melhor e muito mais assistível que toda a trilogia chata e lenta do Senhor dos Anéis. adoroprovocar.mematem.
Obs 2: eu ia escrever algo importante aqui, mas acabei de esquecer. depois quando eu lembrar - se eu lembrar - edito essa joça.

O Amor nos Tempos do Cólera

(Love in the Time of Cholera, de Mike Newell)


Acho que antes de falar sobre "O Amor nos Tempos do Cólera" eu devo falar sobre como foi intensa a minha paixão pelo filme antes mesmo de tê-lo assistido (típico da Lucy). Eu vi o trailer. E o trailer é lindo. Ele é todo romântico, e aquele casal que se ama e não pode ficar junto, e as cartas, e o desespero dela, e a certeza e a paixão dele, e a música e a voz perfeitas da Shakira ao fundo. Lindo, lindo, lindo. Um dos trailers mais lindos que eu já vi. Lembro de tê-lo visto na TV e no cinema e no youtube e de ter feito o download da música e escutá-la overandover. Foi um daqueles filmes que eu já estava pronta pra ir ver no cinema sem nem ter lançado e que eu tinha certeza de que iria ser meu filme favorito por muito tempo. Aí, tive a ideia de ler o livro do Gabriel Garcia Marquez antes de assistir ao filme. E o filme foi lançado. E acho que eu comecei a estudar pras provas. E um amigo meu me fez desistir da ideia de ler o livro "pra dar uma chance ao filme". E foram ver o filme sem mim. E aí saiu de cartaz. Simples assim. Deu, no final, que eu não li livro nenhum e também não vi o filme. Só sei que quando saiu em DVD toda aquela euforia de quando vi o trailer pela primeira vez já tinha passado. Acabei lembrando desse filme ontem e resolvi locar pra ver no que dava.
Aqui percebo que não tê-lo assistido quando deu toda aquela vontade foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Acho que não tem quase nada pior em termos de cinema do que criar uma expectativa MUITO grande em relação a um filme e se decepcionar. Só sei que, se não tivesse havido esse hiato de um ano, provavelmente "Amor nos Tempos do Cólera" teria sido A decepção da minha vida. Como houve, o que aconteceu foi que assisti a um filme completamente diferente do que eu esperava e que não me cativou nem um pouquinho.
Não é que ele seja ruim. Ele só não é aquilo que eu gostaria que fosse.
A história de amor dos 2 minutos de trailer não pode ser a mesma daquela primeira meia hora de filme. Eu não gostei de nenhum dos personagens. Nenhum. Florentino é fraco, romântico demais (a ponto de ser enjoativo), ele beira a loucura e, mais de uma vez, perde completamente os traços masculinos - que já lhe são poucos. Fermina, entre uma cena a outra, passa de heroína romântica faço-tudo-pelo-nosso-amor a mulher desiludida com a vida que não quer nem olhar na cara do ex-amado - esse fato, em si, não é um problema. O problema é que, em momento algum, o filme nos explica como ou porque isso acontece. Só joga na tela essa nova personagem conturbada e chata e espera que nós, telespectadores comportados, aceitemos isso na boa. Tipoassim, NOT. Com os coadjuvantes sobram papéis pouco marcantes, pouco emocionantes e, por várias vezes, ridículos. Ridículo, eu digo, no melhor estilo "Quinto dos Infernos" (sim, a da Globo). Por aí já dá pra ter uma ideia.
Tentando ser um pouquinho justa, tem uma personagem - e uma só - interpretada por Indhira Serrano(qm?) que parece realmente ter alguma consistência. Ela aparece durante menos de um minuto e não fala absolutamente nada, mas em um gesto, um olhar, consegue transparecer toda a emoção que o filme não conseguiu. Quase chorei nessa cena. :')
Ah, e tem a sempre ótima Fernanda Montenegro - interpretando um papel que lá pelas tantas beira o risível, ok - mas que, mesmo assim, continua impecável. Pagaumpauenormepraela. Quando ela encosta a cabeça na cama e reza pedindo pra que a dor do filho passe, genteeem, muito bom.
Muito bom é também a maquiagem que fizeram no Javier Bardem velhote. MARA! E deu de muitos bons. u.u' já fui boazinha demais.
Então, de novo, não é que o filme seja ruim. Ele não é ruim. Ele só é diferente do que eu gostaria. Diferente demais. Não senti, em momento algum, toda aquela paixão, todo aquele amor que eu senti vendo o trailer. A música linda da Shakira que salvaria o filme, não toca durante tempo o suficiente pra preencher todo o vazio sentimental das cenas. Minha dica: fiquem com o video clip da música Hay Amores e com o trailer. Fiquem, também, com a primeira imagem do filme: que é além de surpreendente, linda *e que, aliás, eu não tenho aqui. então apreciem-na quando vocês o assistirem hehe*



Pra quem quiser baixar a trilha sonora com as músicas da Shakira e do Antonio Pinto (?): Parte 1 e Parte 2. Senha para descompactar: Honey (com o H maiúsculo mesmo)

Onde os Fracos Não Têm Vez

(No Country For Old Men, de Ethan e Joel Coen)

[só pra constar que tá cheio, cheeeio de spoilers e coisas que as pessoas que não viram não deveriam ler. Então vejam e depois voltem aqui.]

Acho que eu estou começando a me acostumar com os filmes quietos. Assim, vai demorar até que um deles seja tipo o-filme-mais-perfeito-do-mundo e, confesso, eu ainda tenho que fazer um esforço imenso pra não dispersar a atenção entre uma cena muito tensa e outra. Tanto faz. "No Country For Old Man" é, tipo assim, muito quieto. Eu não assistiria ele depois das 22hs, visto a facilidade que meu ser possui em dormir durante qualquer filme, e uma xícara de café bem forte ajuda. Ah, isso não é um defeito, ok? É só uma característica.
Outra característica é que eu vi em DVD. E o DVD estava arranhado e eu tive que parar três vezes durante o filme pra limpar e fazer macumba. Ou seja: tôputa. Deveriam inventar logo filmes em pen-drives ou algo assim. Nada contra o download de filmes pela internet, mas eu não suporto assistir nada no computador e não tenho saco pra ficar desvendando os mistérios da conexão entre o notebook e a TV. E a terceira observação é: quando vocês forem assistir algum filme (esse, em especial) escolham bem a companhia. Por favor. Não assistam com alguém que vai ficar fazendo comentários e perguntas a cada cinco minutos. fikdik. - isso, claro, pra quem é chatoquenemeu e não gosta de luz nem de som enquanto está vendo algum filme. Tanto faz. Fim da sessão terapia.

O filme. Certo. "Onde os Fracos Não Têm Vez" ganhou o Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Javier Barden) e Melhor Roteiro Adaptado em 2008.
Os diretores são Ethan e Joel Coen (também conhecidos como "os irmãos Coen" hãhã). Ultimamente, eles andam bem famosinhos. Fizeram, em 2008, a comédia(q?) "Queime Depois de Ler", aquela com o Brad Pitt e esse ano concorrem ao Oscar com "A Serious Man", sem nenhum ator que eu e toda minha ignorância conheçamos, nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Filme. Eu, particularmente, não entendo toda a fascinação e todo o auê que fazem em cima dos dois. Ok, os caras são geniais e "No Country For Old Man" é um baita filme, com diálogos e cenas memoráveis - depois eu falo mais. Mas "Queime Depois de Ler" (o outro filme que eu vi deles) eu fui ao cinema assistir, com toda uma expectativa, e achei tão chatinho. Certo que eu não entendi nada do filme,masné. E também, poxa, ganhou o Oscar de Melhor Filme. Ok. Pode até ser o Melhor Filme, mas eu ficaria 10 vezes com "Atonement" ou com "Juno" antes de ficar com o filme dos Coen. Claro, que a Direção dos dois é impecável. Todas as cenas ficaram perfeitas, eu não conseguiria achar nenhum defeito, em nenhuma delas. Os diálogos também são memoráveis. Acho que todo mundo quer realmente viu o filme vai pensar duas vezes antes de jogar cara ou coroa.

Vou falar de dois momentos, agora, então SPOILER. Primeiro, aquela cena do início. FODA DE MAIS. Só a hora que ele chega por trás do policial e estrangula ele com as algemas já seria o suficiente pro Javier Barden ganhar o Oscar (de Ator Coadjuvante? WTF? ele não é tipo, o personagem principal?). Eaí, como se não bastasse ter sido tão, tão afudê, quando ele vai embora ainda vemos as marcas no chão feitas pelas botas do xerife. Todos os detalhes estão ali, só pra que a gente fique ainda mais impressionado com o talento dos bróthers. E depois, a cena da descarga. Aqui, vou fazer um link aos irmãos do Pipocas, que me contaram essa parte muito antes de eu assistir. Chigurgh (Javier, o assassino) entra numa birosca procurando pelo cara que ele quer matar, e a senhora ali diz que não pode dizer onde ele trabalha. E então, quem vê o filme sabe que ele vai matá-la. Simplesmente porque ela o incomoda e ele não teria nenhum motivo pra deixá-la viva. Aí, alguém puxa a descarga. E ele vai embora. Simples assim, a tênue linha que separa alguém vivo de alguém morto: uma descarga. Se a criatura tivesse usado o banheiro por mais 30 segundos, provavelmente teríamos uma velha morta. O que ficou pra mim é que, com o barulho da descarga ele passou a ter um motivo pra deixá-la viva: seria incômodo demais ter que matá-la e matar a pessoa que estivesse no banheiro. Ou seja, a mulher ficou viva por inércia do assassino. E viva as aulas de física.
Como eu já mencionei: os diálogos. Como a cena em que os xerifes chegam no trailer e um deles tem aquela dedução perfeita, como em um episódio de Agente 86 ou algo assim. É engraçado. Verdadeiramente engraçado. E assim temos vários outros comentários durante todo o filme, que assim como algumas situações, te fazem rir. E então, lá pelas tantas, o espectador percebe que está assistindo a um serial killer matando milhares de pessoas sem nenhum escrúpulo, numa verdadeira carnificina, e que ele próprio está rindo daquilo. Sendo que as vítimas nem são nazistas. Sádico.
Por último, eu acho válido mencionar aquelas três histórias dentro da história. Quando o xerfie conta pra esposa sobre o homem que matava os bois; a conversa daquele velho na cadeira de rodas com o xerife; e o sonho que o xerife conta pra sua mulher. É que os personagens começam a falar, e a câmera dá aquele close na cabeçona deles e a gente fica ali, lendo as legendas e, sem nem ao menos perceber, imaginando as imagens descritas pelos personagens. Como se, sem mais nem menos, nossa mente fosse levada para outro lugar bem longe do filme e do assassino, e ficássemos imaginando um senhor e sua criação de gado. Admirável.

Como eu disse, ainda prefiro "Atonement" e "Juno". Mas "Onde os Fracos Não Têm Vez" é um filme com o qual vale a pena gastar duas horas, uma xícara de café - e pros mais hiperativos que nem eu - um pouquinho de boa vontade.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Antes que o Mundo Acabe

de Ana Luiza Azevedo


"Antes que o mundo acabe" é uma prova de que livros podem ser bem traduzidos pro cinema. Ok, tentei fazer um trocadilho pensando em cinema como linguagem cinematográfica e o verbo traduzir, mas isso não exemplifica bem o que a diretora Ana Luiza Azevedo - e toda a galera da equipe, incluindo o Jorge Furtado no roteiro - fez com a obra de Marcelo Carneiro da Cunha. Eles não só traduziram um livro pro cinema, mas deram vida à essência da história. Eaí a gente tem umas mudanças aqui, outras lá, um personagem que cresce, outro que ganha um humor diferente, piadinhas bem portoalegrenses e, como justlikehoney, um filme todo perfeitinho.
Os personagens são magníficos e cada imagem, cada "foto" do filme é mais linda que a anterior. Ah, é. O filme é sobre fotografia. E sobre cartas, família, a expansão do universo e o fim do mundo. Não o fim do mundo à la "2012", pelamordedeus, mas sim as diferenças culturais - ou melhor, as semelhanças culturais no mundo globalizado. E pasmem, a história consegue ser interessante, divertida, criativa e sorridente de um jeito tão encantador que nem dá pra imaginar que é um filme sobre o capitalismo e a sociedade contemporânea. Ele consegue mostrar a magia de cada situação como somente uma criança de 10 anos vê.
Aliás, meu melhor amigo sempre fala das "narrações" nos filmes (os V.O.) e em como eles devem fazer parte da história, não somente resolver um problema de comunicação entre as imagens e o espectador. E a narração dessa história, essa garota encantadora falando pra gente sobre entropia e Tailândia é de arrancar sorrisos.
"Antes que o mundo acabe" inteiro é de arrancar sorrisos. É também de pôr um pouquinho de sufoco no peito. Mas os sorrisos são lindos.



Não deixem de ler o livro homônimo (com o mesmo nome,blz) do Marcelo Carneiro - principalmente se vc tiver uns 10, 12 anos. Ele é legal, tem fotos legais e dá pra ler do início ao fim numa sentada.