sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um Olhar do Paraíso

(The Lovely Bones, de Peter Jackson)



Visto que eu tô sempre avacalhando com as traduções mal feitas pro português, acho justo comentar quando eu considero alguma coisa decentemente adaptada. Adaptada porque "Um Olhar do Paraíso" não é tradução pra "Lovely Bones": é adaptação. Pra quem não sabe lhufas de inglês, a tradução literal seria algo como "Ossos Amáveis". Aí eu me pergunto: quem, em são consciência, faz um livro e coloca o nome de "Ossos Amáveis"? Ou aí tem alguma reflexão/referência muito mais além da minha capacidade de interpretação, ou a criatura que escreveu  isso (Alice Sebold) simplesmente ignorou o fato do quão feio realmente é. E mais uma salva de palmas pro ótimo "Um Olhar do Paraíso" depois de descobrir que a tradução do título do livro - o filme é adaptação de um livro - é a seguinte: Um Vida Interrompida e com direito a subtítulo! Memórias De Um Anjo Assassinado. Faz sentido, mas né, descobri que não gosto desses slogans apelativos demais.
A sinopse, como já pode meio que ser adivinhada pelos títulos, é sobre uma garotinha de 14 anos, Susie, que é assassinada e vai pro céu, de onde narra a história da sua família e todo o resto. Lembro, então, de uma amiga que assistiu o filme comigo e não gostou muito. Quando eu perguntei o porque, a primeira resposta dela foi: "ah, eu não gostei que a garotinha morre". o_o.    okay. é mais ou menos como dizer que não gostou de Titanic porque o barco afunda. Não, melhor. Como dizer que não gostou de Harry Potter porque ele é um bruxo. Pode se ter todos os motivos pra não gostar de Harry Potter, mas esse simplesmente não é um argumento válido. A garota morre. Eis o filme.
Eu devo ter falado com pelo menos 5 pessoas sobre "Um Olhar do Paraíso" e o que eu percebi é que, aparentemente, só eu gostei realmente do filme. Certo, não é o meu preferido. Não foi tão perfeito quanto eu achei que seria. Não me emocionou tanto como Avatar (oi?poisé). Mas é um filme lindinho e bem "adorável" - pelo menos o quanto uma história sobre uma garota morta por um serial killer permite ser.
Tente ver de outro ângulo: é a história de uma garota vivendo a primeira paixão, com toda uma vida pela frente, com sonhos, com família, com amores. A personagem de Saoirse Ronan é tão cativante. Ela fotografa, é toda sonhadora, toda romântica - confissão: me identifiquei litros com ela. antes da morte, claro. E aí, de repente, ela não é mais. Puf. Tão frágil. A vida dela acaba. E o filme começa.

Conhecemos melhor os outros personagens: o pai desesperado, a mãe fraca e perdida (não gostei de nenhum dos dois, fato), a avó extravagante (Susan Sarandon linda, assistam: "Tudo Acontece em Elizabethtown") e, minha preferida, a irmã de Susie. Lindsey, the sister, é a única ali que permanece sólida e - digamos assim - consciente perante todo o desastre que cai sobre a família quando Susie morre. A base da família, de repente, é uma garota de, oq?, 12 anos? (quase certeza que ela era a irmã mais nova). Ela é quem mantém o equilíbrio e as coisas nos eixos enquanto o pai enlouquece e a mãe "escapa". Ela é quem consegue ir adiante - antes mesmo da própria protagonista conseguir.
Deixando de lado as pessoinhas, temos o "Paraíso" de Peter Jackson. Todas as cenas lá são lindas. O Céu que ele ilustrou é bem o Céu de um 14-years-old-girl. Ele é colorido, ele é divertido, ele é cheio daquele mundo de fantasia e romance que ela não pôde viver. Confesso que achei ele mais lindo nas imagens que eu vi pré-filme (o que só serviu de lembrete pra que eu não visse mais nada de "Alice" by Tim Burton antes do lançamento), mas mesmo na tela grande ficou sensacional. Como todas as adaptações de livros que eu já vi (talvez, com exceção de "Ensaio Sobre a Cegueira, que eu tmb não li) ficaram algumas lacunas abertas. Alguns personagens que não tiveram o tempo suficiente pra si. E foi exatamente isso que faltou: tempo. A garota gótica (oi?) fica simplesmente jogada de lado o filme todo. Nas primeiras cenas, é feito todo um auê em cima da conexão dela com Susie que não é retomado nem explorado decentemente em momento algum. Resumem, muito mal, em duas frases uma explicação idiota e deu. Ponto pra Lista dos Contras aqui.
Já uma sacada que eu achei perfeita - e aí imagino ser algo bom do livro/história e não do filme em si - é a decisão que a Susie toma naquele momento de tensão. Ela escolhe beijar o garoto. Simplesmente porque pra ela, naquele momento, entre tentar se vingar do seu assassino e ficar com a paixão pré-adolescente, a segunda opção é mais importante. Garotas de 14 anos, sim. Outro ponto a ser mencionado, creio eu, é que não há explicações maiores a respeito do Paraíso e de como ele funciona. A história é centrada nos personagens, em como eles encaram os acontecimentos, Susie, principalmente. Logo, quem vai assistir com a expectativa de ter toda uma revelação e um novo ponto de vista sobre vida após a morte e essas coisas, é melhor mudar de ideia. A intenção não é dar um manual de instruções desse outro universo, e isso nem é ruim.
Pra terminar, tem o final. E, de novo, é um final 14 anos. Estando nós no séc. XXI, eu diria, inclusive, que é um final 8 anos à là "101 Dálmatas". Ponto negativo aqui: novamente, pro livro, creio eu. Juro que eu ficaria puta se, depois de ler um livro inteiro, terminasse daquele jeito. Tipo, que eu sou completamente a favor de adaptações livres pro cinema de obras literárias. "The Time Traveler's Wife" tem o final diferente - o do filme, aliás, mil vezes melhor. E, confesso que eu não ficaria nem um pouco triste se decidissem matar o Edward em "Amanhecer" pra que a Bella e o Jacob vivessem felizes pra sempre ♥. Já em "Um Olhar do Paraíso" encaramos durante duas horas um Stanley Tucci impecável na pele de um assassino nojento, ficamos com ódio e com asco dele, queremos que ele seja escalpelado, empalado, torturado, arrancadas as orelhas e as unhas e queimado vivo, quando o filme termina daquele jeito ridículo.

"Um Olhar do Paraíso" emociona - pelo menos, emocionou as duas senhoras sentadas ao meu lado que soluçavam de tanto chorar enquanto o filme se aproximava do fim - ainda mais quem já é mais experiente e tem filhos e essas coisas. Ou quem gosta de crianças, o que não é o meu caso (eu gosto de árvores, por isso, tanta emoção com "Avatar"). E é, apesar de todos os defeitos e das milhões de coisas que eu teria feito melhor se eu fosse a roteirista *prepotência mode on*, um filme lindo e ótimo e que deve ser visto no cinema - imagino que o Céu deve perder metade da emoção quando reduzido a 40 polegadas ou seja lá o tamanho que fazem as TVs hoje em dia -. Fica de reflexão, perante todo o desgosto com o final do filme, a análise das características da nossa sociedade e do que consideramos imperdoável. Já sei que é quase unânime o ódio em relação aos nazistas e que ninguém ficaria triste em ver milhões deles carbonizados numa tela gigante de cinema *lembre mental pra Lucy aqui: ótima ideia para um filme*. Imagino ser também unânime e da mesma proporção o ódio em relação a pedófilos. Não há espaço pra compaixão ou entendimento nesse quesito. Se fala em "justiça". E o final do filme não dá pros espectadores essa justiça. Daí a raiva que deveria ser sentido pelo assassino pode acabar sendo direcionada em parte pro filme. E pro Peter Jackson. E pra todo o resto.

Obs 1: eu sei que eu vou ser apedrejada por escrever isso mas, falando em Peter Jackson, "Um Olhar do Paraíso" é muito, muito melhor e muito mais assistível que toda a trilogia chata e lenta do Senhor dos Anéis. adoroprovocar.mematem.
Obs 2: eu ia escrever algo importante aqui, mas acabei de esquecer. depois quando eu lembrar - se eu lembrar - edito essa joça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vai ô filha da puta!