sexta-feira, 4 de junho de 2010

Onde os Fracos Não Têm Vez

(No Country For Old Men, de Ethan e Joel Coen)

[só pra constar que tá cheio, cheeeio de spoilers e coisas que as pessoas que não viram não deveriam ler. Então vejam e depois voltem aqui.]

Acho que eu estou começando a me acostumar com os filmes quietos. Assim, vai demorar até que um deles seja tipo o-filme-mais-perfeito-do-mundo e, confesso, eu ainda tenho que fazer um esforço imenso pra não dispersar a atenção entre uma cena muito tensa e outra. Tanto faz. "No Country For Old Man" é, tipo assim, muito quieto. Eu não assistiria ele depois das 22hs, visto a facilidade que meu ser possui em dormir durante qualquer filme, e uma xícara de café bem forte ajuda. Ah, isso não é um defeito, ok? É só uma característica.
Outra característica é que eu vi em DVD. E o DVD estava arranhado e eu tive que parar três vezes durante o filme pra limpar e fazer macumba. Ou seja: tôputa. Deveriam inventar logo filmes em pen-drives ou algo assim. Nada contra o download de filmes pela internet, mas eu não suporto assistir nada no computador e não tenho saco pra ficar desvendando os mistérios da conexão entre o notebook e a TV. E a terceira observação é: quando vocês forem assistir algum filme (esse, em especial) escolham bem a companhia. Por favor. Não assistam com alguém que vai ficar fazendo comentários e perguntas a cada cinco minutos. fikdik. - isso, claro, pra quem é chatoquenemeu e não gosta de luz nem de som enquanto está vendo algum filme. Tanto faz. Fim da sessão terapia.

O filme. Certo. "Onde os Fracos Não Têm Vez" ganhou o Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Javier Barden) e Melhor Roteiro Adaptado em 2008.
Os diretores são Ethan e Joel Coen (também conhecidos como "os irmãos Coen" hãhã). Ultimamente, eles andam bem famosinhos. Fizeram, em 2008, a comédia(q?) "Queime Depois de Ler", aquela com o Brad Pitt e esse ano concorrem ao Oscar com "A Serious Man", sem nenhum ator que eu e toda minha ignorância conheçamos, nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Filme. Eu, particularmente, não entendo toda a fascinação e todo o auê que fazem em cima dos dois. Ok, os caras são geniais e "No Country For Old Man" é um baita filme, com diálogos e cenas memoráveis - depois eu falo mais. Mas "Queime Depois de Ler" (o outro filme que eu vi deles) eu fui ao cinema assistir, com toda uma expectativa, e achei tão chatinho. Certo que eu não entendi nada do filme,masné. E também, poxa, ganhou o Oscar de Melhor Filme. Ok. Pode até ser o Melhor Filme, mas eu ficaria 10 vezes com "Atonement" ou com "Juno" antes de ficar com o filme dos Coen. Claro, que a Direção dos dois é impecável. Todas as cenas ficaram perfeitas, eu não conseguiria achar nenhum defeito, em nenhuma delas. Os diálogos também são memoráveis. Acho que todo mundo quer realmente viu o filme vai pensar duas vezes antes de jogar cara ou coroa.

Vou falar de dois momentos, agora, então SPOILER. Primeiro, aquela cena do início. FODA DE MAIS. Só a hora que ele chega por trás do policial e estrangula ele com as algemas já seria o suficiente pro Javier Barden ganhar o Oscar (de Ator Coadjuvante? WTF? ele não é tipo, o personagem principal?). Eaí, como se não bastasse ter sido tão, tão afudê, quando ele vai embora ainda vemos as marcas no chão feitas pelas botas do xerife. Todos os detalhes estão ali, só pra que a gente fique ainda mais impressionado com o talento dos bróthers. E depois, a cena da descarga. Aqui, vou fazer um link aos irmãos do Pipocas, que me contaram essa parte muito antes de eu assistir. Chigurgh (Javier, o assassino) entra numa birosca procurando pelo cara que ele quer matar, e a senhora ali diz que não pode dizer onde ele trabalha. E então, quem vê o filme sabe que ele vai matá-la. Simplesmente porque ela o incomoda e ele não teria nenhum motivo pra deixá-la viva. Aí, alguém puxa a descarga. E ele vai embora. Simples assim, a tênue linha que separa alguém vivo de alguém morto: uma descarga. Se a criatura tivesse usado o banheiro por mais 30 segundos, provavelmente teríamos uma velha morta. O que ficou pra mim é que, com o barulho da descarga ele passou a ter um motivo pra deixá-la viva: seria incômodo demais ter que matá-la e matar a pessoa que estivesse no banheiro. Ou seja, a mulher ficou viva por inércia do assassino. E viva as aulas de física.
Como eu já mencionei: os diálogos. Como a cena em que os xerifes chegam no trailer e um deles tem aquela dedução perfeita, como em um episódio de Agente 86 ou algo assim. É engraçado. Verdadeiramente engraçado. E assim temos vários outros comentários durante todo o filme, que assim como algumas situações, te fazem rir. E então, lá pelas tantas, o espectador percebe que está assistindo a um serial killer matando milhares de pessoas sem nenhum escrúpulo, numa verdadeira carnificina, e que ele próprio está rindo daquilo. Sendo que as vítimas nem são nazistas. Sádico.
Por último, eu acho válido mencionar aquelas três histórias dentro da história. Quando o xerfie conta pra esposa sobre o homem que matava os bois; a conversa daquele velho na cadeira de rodas com o xerife; e o sonho que o xerife conta pra sua mulher. É que os personagens começam a falar, e a câmera dá aquele close na cabeçona deles e a gente fica ali, lendo as legendas e, sem nem ao menos perceber, imaginando as imagens descritas pelos personagens. Como se, sem mais nem menos, nossa mente fosse levada para outro lugar bem longe do filme e do assassino, e ficássemos imaginando um senhor e sua criação de gado. Admirável.

Como eu disse, ainda prefiro "Atonement" e "Juno". Mas "Onde os Fracos Não Têm Vez" é um filme com o qual vale a pena gastar duas horas, uma xícara de café - e pros mais hiperativos que nem eu - um pouquinho de boa vontade.

Um comentário:

Rodrigo Oliva Peroni disse...

Aí é que tá!
Eu também fiquei horas (dias) pensando "WTF Javier Barden como coadjuvante!?" Mas aí é que tá o filme, a mensagem e tudo pelo qual ele mereceu o Oscar: O principal É O XERIFE. Na cena inicial e na final que tá a magia, nelas que se explica o título do filme. É bem isso: the times they are a'changing.