quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Fita Branca

(Das Weisse Band, de Michael Haneke)

Com todo esse lance de cinema, arte, cult, etc. decidi que já era mais do que o momento de expandir meus horizontes críticos em relação aos filmes que eu assisto u.u'. É claro que nem todos os filmes são perfeitos e maravilhos e uou como, por exemplo, "Avatar", mas o fato é que cada produção é única e deve ser apreciada e pensada de um jeito diferente. Com isso em mente - e inaugurando essa nova fase, hehe - decidi falar um pouco sobre "A Fita Branca", indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Fotografia.
Desde o início do filme - o ínicio mesmo, quando aparece o logotipo da distribuidora "Imovision" - a gente já fica sabendo que ele vai ser um tanto quanto quieto - e todo mundo que me conhece um pouquinho sabe dos meus probleminhas com filmes quietos e lentos e parados e cults-demais. Pois bem, "A Fita Branca" é tudo isso junto e bastante. E mesmo assim, o filme é bom. Acho que vale dizer que o filme é muito bom. Obviamente, não é nenhum "Transformers" mas, do seu jeito, é um ótimo filme.
A sinopse é mais ou menos assim: uma aldeia no interior da Alemanha por volta de 1913 (logo antes da 1ª Guerra, para aqueles que nãosabemelogonãomerecemviver). Um grupo de crianças e suas famílias. O professor do coral, narrando. Então, eventos estranhos começam a acontecer envolvendo a vida dos habitantes dessa comunidade rural alemã, motivo que traz até o espectador detalhes dos acontecimentos íntimos de cada um desses núcleos familiares. Temos os mentores de cada familia (o médico, o pastor...) e seus comportamentos expostos na tela: de um lado, a rigidez, a moral, a "fita branca" pregada e cobrada incessantemente dos filhos e filhas; do outro, o que existe por trás de uma máscara de hipocrisia e falsos argumentos.
O mais interessante e admirável é como todas essas relações são transmitidas ao público sem o menor esforço (e sem a aparente intenção do narrador de fazê-lo). As imagens e as próprias falas do personagens dão conta de fazer o espectador sair da sessão tendo entendido tudo aquilo que o filme, de fato, tem a intenção de mostrar. A presença de um narrador, se fosse usada de um jeito amador (saca só, eu falando de amadorismo haha) ou, pior ainda, se fosse usada com a ideia de um público incapacitado para compreender o enredo, teria sido ridícula: teríamos um personagem discursando e filosofando sobre os assuntos. Thankgod, não é isso que acontece em "A Fita Branca". O personagem em contato direto com o pessoal daqui, serve apenas para nos deixar a par de fatos relevantes que não "aparecem" no filme, fatos anteriores ao início da narrativa ou que quebrariam a sequencia lógica de acontecimentos. Esse mesmo personagem, contudo, quando aparece em cena, é o que mais se aproxima da "consciência" do filme. É ele que argumenta e planta na cabeça de quem está assistindo a dúvida que fica nos rodeando mesmo após sairmos da sala de cinema.
Tecnicamente (e como eu não entendo lhufas de coisas técnicas) a falta de uma trilha sonora deve ser compreendida ao contrário. Quer dizer: a trilha sonora do filmé é o silêncio. O "nada", a ausência de música faz parte de toda a produção. Não é aquele silêncio de "ohfuck, alguém esqueceu de fazer um soundtrack", pelo contrário, é o silêncio proposital, que incomoda mesmo, que chama a atenção pra cada ruído, que angustia. Esse vazio sonoro faz parte de uma das sensações mais marcantes de "A Fita Branca", o choque, a pontada nos sentidos humanos, a provocação que te faz olhar com cara de nojo para a tela, que torna alguns momentos insuportáveis. Primordialmente, entretanto, o choque de "A Fita Branca" vem na medida exata: ele é forte o suficiente para que não seja esquecível, mas não é tão exagerado que estrague o filme ou que cause um asco tão grande no espectador a ponto dele desgostar do que vê (como acontece, por exemplo, no polêmico "Anticristo" de Lars Von Trier). Não vai ser surpresa e, confesso, eu não vou achar ruim se ganhar o Oscar de Filme Estrangeiro (embora eu não tenha moral alguma pra falar isso, já que não vi nenhum outro filme que está concorrendo).

Agora, tirando um momento pra Lucy filosofar.
Primeiro, eu queria falar sobre esse lance de um filme em preto-e-branco sendo indicado como Melhor Fotografia. Fico me perguntando um pouquinho sobre tudo isso. Será que no meio de tanta "tecnologia" aliada à produção de filmes (vide Avatar), as técnicas cada vez mais modernas de filmagens, efeitos especiais, captar da paisagem todas seus detalhes, nas mínimas cores, será que o excesso de tudo isso não leva o ser humano à buscar pela beleza no primordial? Na raiz? No que é limpo, claro, básico? Será que quando todas as mulheres andarem maquiadas ao extremo, com sombras, brilhos e pinturas coloridas por toda a face, o belo voltará a ser um rosto limpo? Sem desenho algum? Engraçado imaginar que, quanto mais avançamos em direção ao novo, ao científico, ao virtual, mais buscamos nos agarrar àquilo que é real, concreto, básico, enfim, black&white. Talvez o homem quando inundado por todos os lados com cores demais, efeitos demais, detalhes demais, seja acometido por essa necessidade de contemplar durante quase três horas a antítese, aquilo que houver de menos rebuscado possível como, por exemplo, um filme sem nenhum efeito especial, sem cores, sem detalhes, sem seres bioluminescentes planando ao redor de humanóides coloridos em 376 tons diferentes de azul. E é magnifíco como essas duas produções tão diferentes encontram espaço do mesmo jeito, lado a lado.

Em segundo lugar, citando o GuiaHagah para concluir: ["A Fita Branca" é] um ensaio sobre o surgimento do terrorismo - no caso, da sociedade que depois abraçaria o nazismo de Hitler. Confesso que me perguntei bastante se deveria ou não incluir essa frase aqui e achei que o melhor seria deixá-la. Eu a li antes mesmo de ir ver o filme, e confesso que só a compreendi plenamente quando voltei da sessão e peguei o jornal novamente.

Fica que é um desses filmes que a) quem é metido a cult; b) quem tá nas expectativas pro Oscar; c) quem curte fumar umas e ficar filosofando; enfim, qualquer um que tenha a mente mais aberta para além de robôs gigantes e vampiros homossexuais deve assistir, pensar e apreciar. (Nem que seja só pelo prazer de entender a origem do título. hehe. fiquem na curiosidade).

;)

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