sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Guerra ao Terror

(The Hurt Locker, de Kathryn Bigelow)

Fato: não me emocionou. Isso já é motivo suficiente pra que eu destaque todos os pontos negativos de um filme e deixe de lado as coisinhas boas. Digamos que, não é só o fato de não ter emocionado, exatamente. É que não ficou martelando na minha cabeça durante dias. Não vai ficar guardado na minha memória por décadas - ou por meses, whatever. Eu li por aí que o filme é muito bem feito, e a fotografia é ótima, e a montagem é ótima e a direção é ótima e firme. Ok. O filme deve ter todos esses atributos positivos, mas, é isso. É um ótimo filme, muito bem feito, como tem tantos outros por aí. Tá. Chega de chinelear, vamos aos detalhes filosóficos.
Primeiro, "Guerra ao Terror", o título e duas observações. Como aqueles mais entendidos de inglês já repararam, mais uma vez a tradução ---. Infelizmente, gastei toda minha habilidade de xingar traduções que mudam o sentido do filme com "Up In the Air" (e o seu glorioso "Amor Sem Escalas" ¬¬) portanto vou simplesmente ignorar esse fato. Então. "The Hurt Locker" centra sua história nesse grupo de soldados (?) no Iraque cuja função é desarmar bombas. O estranho disso tudo é que ele é um filme de guerra. Não do mesmo jeito que aquele do soldado ryan, o do rambo ou "Platoon" (de Oliver Stone, sobre a guerra do Vietnã). "Guerra ao Terror" - e o título em português dá espaço pra filosofar sobre isso, azarodevcs,leitores -, é um filme de guerra à la sec XXI. Sem... ação. Sem contato. É uma guerra de homens contra bombas, de homens com bombas, de robôs e de (mais) bombas. Não tem os tanques avançando em cima dos soldadinhos, não tem guerreiros camuflados entre as folhagens. E o filme retrata isso muito bem. A tensão silenciosa do início ao fim, o risco iminente de morte - não pela metralhadora de um soldado inimigo, mas pelas próprias mãos, ao cortar o fio errado ao desarmar um explosivo -, a paranóia constante em relação a tudo e todos. A "Guerra ao Terror" que a gente vê ali é, parafraseando o Ghuyer, um reality show da guerra no Iraque, tamanha é a verossimilhança do que aparece em tela.
Também acho válido mencionar minha ótima percepção/comparação em relação aos temas que "Guerra ao Terror" e "Avatar" tratam. Assim, é o tipo de coisa que a gente estuda na aula de Atualidades. É o que sai no jornal. Quem assiste BBC (inútil) sabe que o tempo todo passa notícias sobre os soldados no O. Médio. O tempo TODO. Quem tá um pouquinho ligado, ficou sabendo da Conferência do Clima, o aquecimento global, o derretimento do permafrost, o fim do mundo. E aí a gente tem que os dois filmes mais cotados pra ganhar o Oscar de 2010 não são sobre um assassino com penteado feio ou sobre um garoto indiano e o destino. São sobre temas, digamos assim, mais globais. Aliás, são sobre temas (a ameaça ao meio ambiente e os conflitos no oriente médio) nos quais os EUA não tem a cara muito limpa e que atingem os norte-americanos e a entidade USA muito, muito diretamente.
...
Voltando ao "The Hurt Locker". Três comentários. A primeira cena do filme é PER-FEI-TA. É super tensa, e aquele lance do robô, e a agonia, e -porra- A TOMADA DA AREIA! Tipo: foda. Vale a pena ver o filme, nem que sejá só por essa cena.
Depois, a frase que inicia o filme. Não poderia ser melhor escolhida. "The rush of battle is often a potent and lethal addiction, for war is a drug" (O calor da batalha é frequentemente um vício
potente e letal, pois a guerra é uma droga). Essa frase simplesmente é o filme - ou, pelo menos, a alma dele, se filmes tivessem alma o_o'. E aí tem o final. *-* Pra quem não viu, um pouco de cuidado aqui, ok? Tipo, vão embora, não leiam. O final é a ilustração perfeita daquilo que o filme realmente é. Daquilo que a guerra realmente é. Como nosso Hurt Locker disse: com certa idade só sobram uma ou duas coisas que realmente se ama. Às vezes é só uma. Fica então aquele choque, aquela porrada no estômago depois da última cena. Digamos que, se alguma coisa de "Guerra ao Terror" ficar guardada na minha cabeçona por alguns meses - ou algumas décadas - vai ser o final.

"The Hurt Locker" foi indicado ao Oscar em: Melhor Filme, Melhor Diretor (Kathryn Bigelow), Melhor Ator (Jeremy Renner), Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora, Mixagem de Som e Edição de Som.

2 comentários:

Guilherme Huyer 2 disse...

Fico muito feliz que tu tenha me citado! :)
E também preciso destacar o fato de que tu me fez me ligar no grande lance do filme que eu, pateta, não tinha me dado conta. A ligação daquela frase inicial com a cena final. Parabéns para ti, ou vaias para mim, ou os dois, eu NÃO TINHA ME LIGADO! Agora eu gosto mais do filme, e quero ver de novo *.*

Rodrigo Oliva Peroni disse...

Tu não pode ser tão exigente com o cinema: Só porque o filme não é o filme da tua vida não quer dizer que ele não é muito ótimo! E mais: Nem todos querem que o espectador fique fazendo altas reflexões sobre os diálogos e tal. Tem filmes (Esses de ação, guerra) que são simplesmente legais e não tocam nosso coração nem nos faz repensar nossos valores - e nem por isso são piores. Guerra ao Terror tem uma mensagem E diverte com o suspense.