quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Bastardos Inglórios

(Inglorious Basterds, de Quentin Tarantino)

Para ler a crítica do Pedro clique aqui.

Quem conhece um pouquinho do Tarantino e ouve dizer que ele vai lançar um filme "sobre a 2ª Guerra Mundial" já sabe que não vai ser nada parecido com qualquer outro filme já feito sobre esse tema. Ele é, provavelmente, o cara mais criativo e original que transita pelos tapetes vermelhos hoje em dia, e "Bastardos Inglórios" é exatamente o reflexo dessa mistura tão... excêntrica entre Quentin Tarantino e Hollywood.
Para aqueles que não estão habituados ao nome do diretor, ele é a cabeçona por trás do famosinho-cultuado-pseudo-intelectual "Pulp Fiction", com a Uma Thurman, o John Travolta e o Samuel L. Jackson. Trazendo o nome dele mais pro presente, Tarantino é também diretor de "Kill Bill (Vol. 1 e 2)" também com a Uma Thurman. Diferentemente do que acontece com outros diretores, como o Steven Sipelberg, por exemplo, que têm suas produções sempre ligadas ao nome de Hollywood e são em grande parte consagradas como os mega filmes dessa indústria, o Tarantino é o cara cujo primeiro filme se passa dentro de um depósito (?), onde um grupo de homens de terno se reúne após um assalto a banco que não deu bem certo. E então comparamos esse "Cães de Aluguel" com o último "Bastardos Inglórios" e da pra ver quanta coisa mudou. Se antes tínhamos um cara muito criativo - e, vamlá, completamente perturbado, louco e psicótico - dirigindo um filme de baixo orçamento, com atores pouco conhecidos e cenários quase inexistentes, o Quentin Tarantino de "Bastardos Inglórios" é tão grandioso quanto Hollywood (e talvez até um pouquinho mais). O Tarantino de agora dirige um dos nossos melhores atores vivos (o Brad Pitt, sim u.u) em uma produção linda e gigante e ultra-gloriosa. Ele mostrou que, não só continua sendo o diretor dos diálogos geniais, do ultra-violence mais divertido e bem feito ever, o que faz milagres com um orçamento de 50 dólares, como agora é também o diretor que sabe pegar o que Hollywood tem a oferecer de melhor - o dinheirocofcof - e dirigir um baita filme, com todos aqueles cenários magníficos, e todas as cores, e todas as roupas, e todos os efeitos, e a fotografia, e cada mínimo detalhes, e os atores e e... tudo, enfim, tudo continua sendo perfeito. E, óbvio, tudo continua com a cara do Tarantino.
Quentin Tarantino paz-e-amor. oi?

"Bastardos Inglórios" é isso. É o diretor meio trash e meio louco que ficou gigante e fez uma ultra-blaster-produção sem perder nem por um segundo o estilo sanguinário e negro do início. Deixando de lado toda a magnitude de "Inglorious", vale citar uma das características do Tarantino tão marcantes quanto o sangue e os "fucks": a música. Como não poderia deixar de ser, além do impecável. A trilha sonora é mais do que perfeita. Desde a primeira cena, quando temos uma casinha no meio do campo e o iniciozinho de "Pour Elise" tocando e te deixando nervoso com aquela sensação de "aideus,oqueseráquevaiaconteceragora?" até a última - que eu não vou contar pra não estragar a surpresa - os sons são perfeitos e estão realmente ali. São tão marcantes e perceptíveis quanto cada cena, cada personagem.
O que aconteceu em algumas cenas - e certo que foi só impressão minha e tanto faz - foi que os diálogos ficaram meio... cansativos. A grande parte do filme entre um momento de tensão e outro acaba ficando meio maçante, seiláporque. Tem uma ou outra piada engraçada, situações divertidas e inusitadas, mas nada que realmente prenda a atenção de quem assiste. A cena do jogo de cartas, por exemplo. Ela é tão comprida que chega a cansar, dá aquela vontade de "puxa, termina isso logo duma vez que eu quero o filme". Mas quando chega no final e os créditos sobem, essa sensação desaparece, e toda a atenção está voltada pro filme como um todo e pra glória-mór.
Nesse mesmo blog lá de cima eu li um outro comentário sobre "Bastardos Inglórios" - que foi indicado ao Oscar em 8 categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator Coadjuvante (Christoph Waltz), Melhor Fotografia, Melhor Edição/Montagem, Melhor Edição de Som, Mixagem de Som. O comentário era "Hollywood ainda não está preparada para Tarantino". E é verdade. Ele disputa, por exemplo, Melhor Filme ao lado de "Guerra ao Terror" - que é ótimo, mas que é tão comum, e guerra, e soldados, e silêncio - que fica pequenininho ao lado de "Bastardos", mas que, entretanto, está sendo muito mais aclamado e apostado que o filme do Tarantino. Não só Hollywood não está pronta pro cabeçudo-louco como muita gente aqui de fora. Minha mãe, por exemplo, achou o filme chato e sem sentido. E acho que é isso que acaba acontecendo com muita gente ainda. "Bastardos Inglórios" corre o risco de virar, do ponto de vista de várias pessoas, um filme chato e sem sentido, com personagens que falam três línguas diferentes, que não se entende nada, e que o Brad Pitt mata nazistas. É claro, pra esses casos, sempre teremos "Invictus" e, por que não?, "Avatar". Faz parte. Ter milhões de filmes diferentes, cada um em um estilo, cada um com sua originalidade - e alguns sem, todas essas possibilidades fazem parte e são completamente séc. XXI. E aí sempre tem um cretino pra perguntar qual dos filmes é o seu preferido. Como se desse pra escolher entre "Avatar", "Bastardos Inglórios" e "Up!" como quem escolhe enntre três sabores de pizza. Não dá. Pelo menos, não pra mim. Esse tipo de coisa difícil é bom deixar pra Hollywood fazer.

Nenhum comentário: