segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

E o Vento Levou

(Gone With the Wind, 1939)


O maior problema de "E o Vento Levou" é eu (nós) já ter nascido com ele sendo um clássico. Ótimo jeito de começar a falar sobre um dos filmes mais consagrados de HollywoodEVER, não? "Maaior problema..." Pois é. Mas eu digo isso porque, ele sendo tão famoso e idolatrado quanto é, não resta espaço pra criticar. Qualquer coisa que for dita de ruim vai ser "OHMYGOD, como ela pode dizer isso da Scarlet O'Hara? MELDELS! É UM CLÁSSICO, É UM CLÁSSICO! Ela que faça melhor! MORRA! MORRAAA sua pré-adolescente poser que acha que entende de cinema e gosta de Crepúsculo, AAAAH". Tanto faz, vão catar coquinho vocês, cinéfilos e seus clássicos do milênio passado (aiquehorror). Enfim, como eu disse, o maior problema é que eu já nasci com ele sendo um clássico e, clássico é clássico. Ninguem diz que Beatles era uma banda de fundo de garagem que só sabia tocar três acordes, que a voz do Paul era horrível e que mais da metade do que eles fizeram é lixo. Ninguém diz, afinal de contas, é Beatles, é Lennon, é clássico. E "E o Vento Levou" é exatamente assim, clássico e do tamanho de Hollywood. 
Nesse sentido, vocês sabem o quanto Hollywood é gigante. E, bem, o filme é tão gigante quanto ele. Pra começar que deve ter umas dez horas de duração. Assim, o filme é longo DEMAIS. Eaí é que, de fato, começam os problemas. A história é grandiosa, brilhante. A personagem principal, uma heroína, uma das maiores personagens femininas do cinema. Mas a impressão que dá, depois de duas horas de filme, é que o roteirista se perdeu há mais de 20 minutos. A história vai acontecendo, as cenas vão passando, e os personagens vão exercendo seu papel à mercê do filme, sem realmente fazerem algo pelo enredo. Scarlet O'Hara reconstruindo sua vida é bem chatinho, principalmente qunado comprimido naquela uma hora e meia e vomitado em cima do espectador. Se fosse uma mini-série da Globo, daquelas que se assiste um pouco em cada dia, talvez fosse mais agradável de digerir, mas assim, do jeito que é proposto, fica beeeem cansativo. E o final. PQP, O FINAL. Tudo bem que eu tenho um complexo muito forte em relação a como os filmes deveriam terminar, MAS, de verdade. Decepção. Porque assistir uma história daquelas, durante 3 horas, acompanhar toda a vida da senhorita pro fim ser DAQUELE JEITO. Como se tivessem pegado o roteiro e RRRHSGGHH, rasgado ele, arrancando fora as últimas 20 páginas, pelamordedeus, melhor ainda seria se tivessem feito mais meia hora e terminado decentemente o filme, costurado ele e todo o resto. Ou então, que tivessem rasgado ele depois da primeira metade, na cena dos rabanetes. Só sei que, do jeito que fizeram aquele acabamento, total FAIL. Perguntem pra qualquer um que viu o filme há mais de um ano. Perguntem se eles lembram de como o filme termina. O interrogado vai elogiar a obra, dizer que é um grande filme, vai lembrar do nome da moça e dela dizendo "Eu juro que nunca mais passarei fome nessa vida!" mas... e o final? Ah, tanto faz.

Fora esses pequenos probleminhas (pequenos mesmo, sem sarcasmo), a primeira metade do filme é uma das melhores coisas que eu já vi. Não é a toa que marcou época como marcou, que ficou impregnado na mente de toda uma geração (de duas, talvez). As cenas são grandiosas bem como as personagens, as falas e, DEUS, o figurino! E as cores e a música. A MÚSICA É - com todo respeito - do caralho. Muito, muito boa. Acompanha o filme do início ao fim, não deixa espaço pro silêncio desconfortável que às vezes acompanha algumas cenas, mas também não atrapalha, em momento algum, o andamento da obra. Acho que devo citar também os efeitos especiais e as montagens que, embora hoje sejam engraçadas pra nossa geração XXI, na época devem ter sido o suprasumo da tecnologia, o que merece muito respeito. Do mesmo tamanho do filme e de Hollywood, é a Scarlett: ela é linda, ela é divertida, autêntica, problemática e batalhadora. Histórica, marcante demais. Ela não é boazinha, super maquiavélica, mas, mesmo assim, é inevitável [não] simpatizar com ela.
 


Enfim, "E o Vento Levou" é uma obra-prima. É aquele tipo de filme que, não importa o quanto passem os anos e o quanto evolua a tecnologia, nada vai apagar. Entrou pra história, como eu já disse, é um clássico. E como todo clássico deve ser admirado e assistido E criticado. Quisera eu ter feito um filme naquela época que permanecesse famoso por tantos anos, por tantas gerações, quisera eu ter feito uma cena que, 70 anos depois, ainda é relembrada nos detalhes por quem assistiu. Quisera eu ter criado uma personagem tão singular quanto Scarlett O'Hara. Seus pontos positivos, toda a genialidade do filme, todo o esplendor das cenas, da fotografia, da música e das personagens, no entanto, não anulam o que eu disse no começo. Depois de uma hora e meia rodada, a história se perde, fica meio sem graça, meio esquecível. É como ouvir a a primeira metade da 9ª Sinfonia do Bethoveen tocada por uma grande Orquestra durante horas e, logo depois, ligar o som e ouvir o resto. Bethoveen é bom, é genial, é um dos melhores músicos ever e a 9ª sinfonia é, tipo assim, muito eterna, mas vai, inevitavelmente, perder um pouco do encanto. A primeira metade do filme é grandiosa e marcante, o estopim chega com talvez a cena mais clássica de Hollywood e, bem, o filme já atingiu seu ponto alto: logo, a próxima uma hora e meia é de queda (bem lenta, por sinal).
Fica a dica. Assistir "E o Vento Levou" de bom humor, numa tarde tranquila, sem sono, apreciando toda a beleza dos anos 40 e toda a singularidade de um filme que perdurou pelas décadas.


Observações finais: o filme é dividido naturalmente (pelo que eu entendi) em dois momentos. Bem dividido, inclusive, com direito a pausa pro café e tudo o mais. Se eu tivesse que propôr uma solução (ENEM, pra sempre), deixaria somente a primeira metade. A metade ascendente, do fogo, da guerra, da sociedade escravocrata boazinha e hollywoodiana, das cenas e falas marcantes e do final maisclássicopossíveldetodosever.

Nenhum comentário: