quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

The Edukators

os seus dias de fartura estão contados

Eu confesso que nunca assisti muitos filmes alemães. Pra falar a verdade, dá pra contar nos dedos quantos eu já vi. Nos dedos de uma mão só. O mais curioso - e só percebi isso nesse exato momento - é que dos 4 filmes de origem germânica que eu vi, acho que nenhum dos 4 é menos do que ótimo. Ouso dizer mais: acho que nenhum dos 4 é menos que cinco pipocas.
A Onda,  A Fita Branca e Corra, Lola, Corra. E agora The Edukators.
Dos problemas de distribuição cinematográficas no nosso país todo mundo está ciente (ou não. whatever) . O curioso é que essa questão (de que nenhum filme que não seja americano chegue às nossas telas e prateleiras) tem um lado positivo. Os filmes "estrangeiros" que chegam são sempre muito, muito bons. Como nenhum país no resto do mundo tem cacife pra bancar uma produção nos padrões técnicos de Hollywood, bom, é aquela coisa né "quem não tem cão, caça com gato". É assim que nos deparamos com produções gravadas em vídeo, com uma câmera na mão meio marginal, uma imagem meio bagunçada e histórias que transbordam veracidade, beleza e qualidade - por exemplo, The Edukators.
O filme começa com imagens de uma câmera de segurança. Ou de várias. E com um rock'n'roll digno de respeito /aliás, os alemães têm um gosto musical muito bom, fikdik/. Com uma história mais original que as histórias inglesas e com um ritmo bem mais "digerível" do que os franceses, The Edukators é uma daquelas obras primas importadas de Cannes que precisam ser vistas. E com uma história de amor (seria de amor?). Mas com um "romance" que, dessa vez, passa longe de ser meigo e fofo. Com um romance cru, sem aquela manta de açúcar derretido que a gente encobre todos os romances, pra que seus personagens pareçam um pouco mais perfeitos. Em The Edukators os personagens não são nem cozidos - quanto mais cobertos com calda de caramelo. 
Jan, Jule e Peter são jovens que não se conformaram com o jeito como o mundo funciona - cada um ao seu modo. O trabalho do diretor, Hans Weingartner, e do outro roteirista é brilhante. O perigo aqui era o de deixar os personagens cairem nos velhos estereótipos. O "jovem revoltado e culto", ou a "garota porra-louca que não sabe direito o que faz" ou o "playboy que paga de marginal". Felizmente, isso não acontece. O modo como Jan está presente na tela, alguma coisa no ator que eu não sei identificar, faz com que seu personagem seja crível o tempo todo. Os seus discursos de esquerda se diluem e antes que a gente se dê conta já é contagiado por aquele ar de líder e quase nos tornamos espectadores-pregadores de seus ideais. Peter, que poderia ter virado o personagem "chato", sai de cena na hora certa - e volta na hora mais certa ainda. E Jule, minha preferida (por que será?), consegue ser perfeita em todos os seus defeitos e erros. E uma personagem que, em qualquer outro momento, se tornaria odiada e fuzilada com tomates pela platéia, acaba sendo... compreendida.
Em um século em que os bons filmes raramente são construídos assim por causa de boas histórias, The Edukators é um baú cheio de moedas de ouro encontrado no fundo do quintal. Um quintal que fica do outro lado do oceano, mas que tem sido canteiro de ótimos arbustos. hehe. =)

O FILME
título original: Die fetten Jahre sind vorbei
diretor: Hans Weingartner
ano: 2004
país: Alemanha, Austria
roteiro de: Katharina Held, Hans Weingartner

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