domingo, 2 de janeiro de 2011

Querido John



Dear John foi lançado em abril de 2010 - ou seja, há quase um ano. Vocês sabem aquele tipo de filme que a gente simplesmente se apaixona só de saber o título? De ler a sinopse? Ou de ver o trailer? E então cria todo o tipo de expectativa em cima dele? Pois é, Dear John foi exatamente esse tipo de filme pra mim em abril do ano passado (feliz 2011, folks). Fiquei sabendo a premissa dele no sempre ótimo Miolão e, admito, foi "love at first sight". Simples assim: se tornou meu filme favorito antes mesmo de ter sido lançado. E eu simplesmente ainda não sei por que só fui assisti-lo pela primeira vez hoje, dia 2 de janeiro de 2011, mais de meio ano depois de ter "caído" pela história de Savannah e John.
Foi um daqueles descaminhos que acontecem: o filme entra em cartaz, você está morrendo de vontade de ir ver, acaba bobeando e quando percebe - puf! - já saiu dos cinemas e perdeu-se a vez. Aí saiu em DVD, saiu na internet, mas eu nem vi. Passou. Até que eu comprei o livro do Nicholas Sparks e comecei a ler e terminei de ler menos de cinco dias depois - coisa rara pra mim em 2010.
Falando a verdade, a história de Dear John (o livro) não é, nem de longe, a melhor e mais bem escrita história do universo literário. Ela é simples, com um vocabulário cotidiano e nem um pouco rebuscado, com frases diretas e fáceis - tão fáceis que eu, uma mera turista do inglês, consegui ler e compreender ele muito bem no seu idioma original. A história de Sparks é assim: fácil. E talvez esse seja seu maior encanto. 
Acompanhamos o relato de John Tyree página por página, tudo numa primeira pessoa verdadeira e sem receios de julgar a si mesmo e aos outros personagens. Nos apaixonamos, junto com ele, por uma garota do interior, que vai à igreja nos domingos e não fala palavrão: Savannah Curtis. Sentimos raiva, alegria e tristeza. Então, antes mesmo que tomemos consciência, estamos devorando cada linha, querendo pular detalhes de descrição, chegar logo ao próximo encontro, à próxima ação, à próxima carta. E uma história com pontos de virada previsíveis e personagens que tinha tudo para cair no melodrama água-com-açúcar acaba nos (me) pegando de jeito e antes que dê pra evitar estamos sentados no meio da praia com os olhos cheios de lágrima.
Aliás, esqueci de comentar a premissa  (logo, ninguém deve ter entendido nada do que eu escrevi até esse ponto,masokay). É mais ou menos assim: John é um soldado norte-americano que em um dos seus momentos de "folga" - duas semanas em casa - conhece Savannah, uma garota loira, do interior, que faz trabalho voluntário e estuda para ser médica de crianças com autismo. E eu não vou falar mais do que isso, se não estragaria a história aos pouquinhos. Aqui está outro ponto tão encantador de Dear John: o modo como vamos conhecendo John e Savannah aos pouquinhos, enquanto eles mesmos se conhecem. 
Nicholas Sparks é o cara cujos livros nas prateleiras das livrarias ficam do lado dos livros da Nora Roberts e que já escreveu várias histórias românticas, algumas, inclusive, deram origem a filmes aclamados pelo público desse... "gênero" (na falta de palavra melhor). São eles o bem fraquinho e com péssimas atuações A Walk to Remember  (Um Amor para Recordar) e o que todos dizem maravilhoso, mas que eu vergonhosamente ainda não assisti The Notebook (Diário de uma Paixão).
Então, o que aconteceu foi que eu passei de um filme que eu queria muito, muito mesmo ver, para um livro que eu queria muito ler e, depois de ter lido, para um filme que eu PRECISAVA ver. Só que eu estava na praia. Sem conexão para download. No feriado de ano-novo. Sem vídeo-locadora. E sem loja de DVDs. Aí eu fiz uma coisa horrível e espero que nenhum oficial de justiça acompanhe meu blog: eu, quase-futura-cineasta, comprei um DVD pirata. Que NÃO FUNCIONOU NO DVD. Sério, foi um dos momentos mais frustrantes de 2010. Porque, sabe, eu REALMENTE queria ver aquele filme. Aí eu fui lá reclamar para minha vendedora: "oi, tia. tudo bom? a senhora me vendeu um dvd que não funciona". E troquei por outra cópia. Que... adivinhem? Claro, também não funcionou. Aí eu joguei o disco na lixeira e fui beber espumante. Fim :)
A primeira coisa que fiz hoje quando cheguei em Porto Alegre foi correr pro shopping, esperar a livraria abrir e gastar meu dinheiro comprando o DVD - dessa vez original - do filme. Porque eu já sabia que ia ser um dos meus filmes favoritos, daqueles que eu gostaria de ver de novo e de novo.

Vamos a mais complicada parte de avaliar um filme que é baseado num livro. Eu acho chato tocar nesse assunto, bem como inevitável. Portanto, vamos ser diretos: um livro é um livro, um filme é um filme. Qualquer um que anseia encontrar nas telas exatamente a mesma emoção e "imagens" que encontrou no livro está sendo um babaca. Vamos ao que de fato interessa: Dear John não é um grande filme - do mesmo modo como não é um grande livro - mas é simples, fácil e verdadeiro. E, por ser assim e por contar uma história de amor linda que gira em torno de um dos meus temas prediletos (ver Complexo de Penélope), eu não consegui escapar de me sentir encantada e presa pelo romance de John e Savannah.


a partir daqui spoilers - só recomendo para quem já viu ou já leu.
Lasse e Linden (o diretor e o roteirista) fizeram um trabalho ótimo em termos de adaptação. Eu adoro quando alguém pega a essência de uma história e simplesmente re-escreve ela, de um jeito que caiba aonde tem que caber. Alguns personagens são omitidos do livro de Sparks - por exemplo, a ex-namorada de John, a vizinha, o melhor amigo. Outros são modificados - Tim e seu "filho" Alan, por exemplo. E, voilà, a história já é outra. As motivações, em certos pontos, são outras. Mas a essência se mantém: a questão da paixão e do quão forte ela pode ser, o que é realmente amar alguém, o relacionamento entre pai e filho, a importância da amizade, do companheirismo, do orgulho e da vergonha dentro de um ambiente de trabalho em equipe. Esses são alguns pontos que estão no esqueleto da história. O resto é o recheio e o tempero que, felizmente, mudam na hora de transformar essa história em filme.
Daquilo que faltou - e acredito quase sempre falta na hora de adaptar livros - foi tempo. Acho que é inevitável: como eu mesma sempre repito é fisicamente impossível comprimir 300 páginas em uma hora e meia de filme. Ou em duas horas. Ou em duas horas e meia. Sempre vai faltar tempo. Ou ritmo (o que, no fim das contas, dá na mesma). Faltou tempo pra aprofundar mais as relações paralelas, para entender John e o pai dele, para entender Savannah e Alan e Tim. Mas aí, eu diria, se isso tivesse acontecido no filme, não seria mais aquela história de amor à la Odisseia, e a Savannah Penélope e o John Ulisses se perderiam em meio a conflitos e sentimentos que, bem ou mal, cabem muito melhor nas palavras e nas 300 páginas do que em duas horas dispersas.
-- fim do spoiler --

O filme ficou lindo. Ficou fechado - como eu gosto que os filmes sejam. A trama é circular e tudo contribui - cada cena, cada fala, cada personagem - para contar uma história maior, que gira em harmonia e que, passando por cima de qualquer imperfeição técnica ou de enredo, consegue ser verdadeira e te fazer sentir. O que, visto a escassez cada vez maior de filmes que nos fazem sentir alguma coisa, eu acho extremamente digno. (E para os mais resistentes aos romances, eu tenho um amigo que tem uma regra: ele nunca assiste a um filme que tenha "amor" no título. Bom, enxerguem aí uma oportunidade, folks).


O FILME
título original: Dear John
diretor: Lasse Hallström    
ano: 2010
país: EUA
roteiro de: Jamie Linden
etc: baseado no romance Dear John, de Nicholas Sparks.


O LIVRO
título: Dear John
escritor: Nicholas Sparks
editora: Hachette Book Group
páginas: 335
ano: 2006

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