quinta-feira, 4 de março de 2010

O Mensageiro

(The Messenger, de Oren Moverman)


Indicado ao Oscar nas categorias de Roteiro Original e Ator Coadjuvante (Woody Harelson), "O Mensageiro" é mais um filme de guerra. Não que ele seja só isso, nem que se passe durante algum combate, mas, mesmo implícita, ela está ali. É a 3ª personagem da trama ao lado do Sgt. Montgomery e do Capitão Tony Stone.
La trama: O Sgt. Montgomery, após se machucar na guerra, recebe o trabalho de comunicar os familiares dos soldados mortos. O filme retrata, basicamente isso, do início ao fim.
É um bom drama, sem ser (muito) exagerado. Tem todos aqueles personagens problemáticos, seus conflitos e traumas. Só que, dessa vez, eles são soldados. E aí, em cima de todo aquele mundo de crises psicológicas, tem uma capa de seriedade e retidão, como espera-se de um militar. Eis aqui nosso protagonista: quieto, sério, contigo. Acompanhamos ele durante duas horas nessa sua nova "missão" e, por conta disso, somos levados para dentro das casas, das famílias norte-americanas, presenciamos seu desmoronamento e, de canto, temos o sofrimento de cada pessoa esfregado na nossa cara ao receber a notícia de que seu filho, seu marido, está morto.

Duas coisas que me chamaram a atenção no trabalho do Mensageiro. Uma delas, mais a ver com a história em si, é sobre o modo que a notificação é dada. A sobreposição de vozes, choros e gritos. Os militares ali exercendo aquela função tão necessariamente humana e agindo quase como robôs. Simplesmente iniciam o discurso de praxe, sem o menor contato com o interlocutor. Eles parecem máquinas, vomitando palavras vazias enquanto os familiares caem aos prantos. Nem mesmo quando alguém parte para a violência parece haver qualquer tipo de reação. Tudo muito automático. E aí, lembrei de um outro filme (ok, reconhecimento: quem deu a dica foram os irmãos do Pipocas) no qual, guardadas todas as diferenças, também fala sobre alguém que precisa aprender um trabalho no qual tem de dar notícias ruins para as pessoas e a necessidade, maior do que nunca, de ser humano em momentos assim. Um computador jamais poderia anunciar para uma mãe que seu filho não vai voltar para casa, uma máquina não pode te abraçar e dizer que "tudo vai dar certo" e, nesses aspectos, os soldados do filme são quase dois hardwares.
O outro aspecto das "mensagens", aí mais técnico, é como a filmagem aparenta, em alguns momentos, o estilo "documentário", literalmente invadindo porta a dentro as salas de estar, super "Extreme Makeover". Eu, particularmente, tenho minhas rixas com esse tipo de recurso, mas serviu muito bem no filme, não só aproximando o espectador daquelas gentes, como também revelando a distância entre elas e os militares.
No mais - e aí traçando um paralelo com outro filme de guerra um pouco mais badalado - temos a cena na cozinha, na qual Montgomery trava um dos principais diálogos com uma personagem. Nas palavras deles acabam dizendo exatamente a mesma coisa que "Guerra ao Terror", da Bigelow: como a guerra vicia, como ela muda as pessoas e como destrói milhões de vidas. (Gosto de acreditar que essa onda de filmes guerra-trauma-destruição-caos são um reflexo do que o povo americano sente em relação aos conflitos mundiais envolvendo sua nação, ma né. Sou uma otimista).
No mais, tem a ótima atuação do Ben Foster (A-DO-REI a cena do telefonema/carta); o sempre com cara de louco-assassino-por-natureza Woody Harrelson, verygood; e, só pra não fugir do costume, um final bem meia-boca, nhé.

Obs: eu tinha planejado começar isso aqui com uma frase genial (modéstia parte), mas acabei esquecendo de fazê-lo. Por isso vou terminar com ela.

Em outro momento eu classificaria "O Mensageiro" como um drama pesado. Acontece que depois de assistir "A Fita Branca" vai ser bem difícil usar esse adjetivo com qualquer outro filme. Fica então que "O Mensageiro" é denso, mas não é capaz de afundar ninguém.

4 comentários:

Guilherme Huyer 2 disse...

Alguém mais percebeu a cena do telefonema! Não estou sozinho (:

Guilherme Huyer 2 disse...

E concordo com a tua frase genial.

Rodrigo Oliva Peroni disse...

(Yey, fui citado!!)

E Preciosa, afunda??

Lucy disse...

ah, Preciosa teve comigo o efeito CONTRÁRIO (sim, estranho) ._.' tipo, tu termina o filme morrendo de vontade de chegar em casa e dizer pra tua mãe o quanto tu ama ela. =B