sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Lula - O Filho do Brasil

(de Fábio Barreto)



Antes de mais nada, vamos esclarecer uma coisa aqui. Política. Ah, porque foi lançando em ano de campanha eleitoral; porque foi o filme brasileiro mais caro já produzido até hoje; porque foi patrocinado por empresas que tem negócios com o governo; porque o DVD vai ser lançado por 10 pila. Pois é, tu vê só. Como isso é ruim, não? Aliás, absurdo E ruim. De repente, a gente tem um filme produzido no nosso país, que conta a história de uma personalidade nossa, que teve dinheiro suficiente pra realizar uma produção convincente e bela, e ainda por cima vai ser lançado em DVD por um preço acessível. Mas, como sempre, gostamos de apontar os defeitos. É prazeroso dizer que é uma porcaria de filme e que só tem esse auê todo porque é do Lula. Alô, óbvio. E qual o problema? Ao invés de ficar descendo o pau junto com todo mundo, deveríamos parar e pensar durante alguns minutos sobre a IMPORTÂNCIA que isso pode vir a ter. Ao invés de abrir a boca pra criticar, deveríamos abrir os olhos, ser um pouco otimistas, porque, quem sabe, essa não é a janela aberta que a gente precisava pra conseguir mais investimentos empresariais no cinema, pra conseguir vender um DVD por um preço melhor... Enfim. Deixando a bagunça, vamos ao filme.


Agradar a todos é impossível, fato. Quando se fala de filme brasileiro, é mais difícil ainda, por causa de todo o preconceito e etc. E, pra dificultar ainda mais, é brasileiro E polêmico. Logo, a tendência matemática natural é que sejam apontados muito mais os defeitos do que as qualidades. Por isso, comecemos pelo negativo. A primeira impressão da Lucy (quem vos fala) é que o filme, às vezes, fica meio sem ritmo. Não é lentidão, é só a falta de uma linha imaginária mais bem costurada entre uma cena e outra. A crítica do Omelete aponta que "o lado político de Lula foi escondido" - e a Lucy acha que, se o filme tivesse sido focado nisso, estaríamos criticando o excesso de politicagem no filme. É verdade, sim, que em alguns momentos deixa um pouco a desejar e que em outros lembra - muito - "2 Filhos de Francisco", é verdade, também, que não é o filme com mais reviravoltas na trama, e que às vezes os sentimentos são mostrados de modo bem óbvio, mas nem tudo precisa ser sempre difícil e abstrato e cult. "Lula - O Filho do Brasil" é um filme fácil e isso - independentemente do motivo - não é um defeito, é só uma característica.
Na verdade, antes de ele ser sobre um garoto pobre, que passou por inúmeras dificuldades até se tornar um grande líder sindicalista e depois presidente do Brasil, antes de tudo isso, é um filme que não precisava ser sobre o Lula. Poderia ser só "O Filho do Brasil", ou melhor, "Os Filhos...". É a história de uma mãe, de uma mulher que tem de ser forte, batalhadora, que sofre e apanha da vida o tempo todo, mas que não perde o amor, a alegria, a esperança e o otimismo. É a história das crianças que não tem infância, que trabalham, que têm fome, que apanham porque querem jogar futebol ao invés de vender laranja na rua. É também a história de um povo que não tem acesso à saúde, onde o sistema é precário e não funciona, que vive à mercê da sorte. Ok, é a biografia do cara que hoje é presidente da República, mas é também as cenas da vida real de muita, muita gente.
A beleza de algumas cenas surpreende durante as duas horas. Volta e meia, entre um acontecimento e outro, temos a imagem do campo, do céu; da casa, com toda sua assimetria; da multidão enlouquecida no estádio de futebol. São cenas bonitas, bem feitas, com uma delicadeza e um ponto de vista surpreendentemente belos.
"O filme foi feito pra emocionar", alguns diriam e, realmente, emociona. Não é o ponto alto do cinema dramático, mas a história é muito linda e muito triste. Fazer a Lucy lacrimejar com algum filme não é a tarefa mais difícil do mundo, mas mesmo assim tá. u.u .


Por fim, eu queria dizer de um jeito bem legal que "o filme do Lula" fale a pena ser visto deixando de lado todo o sensacionalismo que está sendo feito, qualquer preconceito e todo o resto, vale a pena ser visto sem empáfia e com um pouquinho de boa vontade, porque conta uma história muito bonita, muito emocionante e muito humana. Mas aí eu li uma frase na revista MOVIE e acho que seria digno copiá-la aqui (fikdik: a edição nº4 está muito boa, cheia de comentários sobre os lançamentos Oscarístico e com uma matéria muito interessante sobre o filme comentado aqui). Maurício Angelo disse "Nos braços do povo, o melodrama épico encontra seu auge. A sensação do dever realizado se confunde com o que poderia ser e não foi. Daí a necessidade de assisti-lo como ser humano, apartidário, não ideológico. Algo que, no fim, vale a pena fazer."

Ah, e eu quase esqueço: tem a linda da Cleo Pires *-*

Um comentário:

Thiago Dantas disse...

Não vi o filme ainda, confesso. Mas mesmo sem ver concordo e discordo com você nos seus dois principais pontos: acredito que todo filme deve ser visto primeiramente como um filme e só depois deve ser analisado dentro do contexto social-político. Então, Lucy, parabéns por fazê-lo. Agora um ponto que me deixou desconfortável foi você falar sobre o investimento no cinema nacional e o preço do DVD. Cara, procure-me no MSN qnd eu tiver on pq é taaaanta coisa que FACILITA o investimento que fica difícil escrever. Hahaha! No mais, belo texto. Quando eu ver comento contigo ;)